quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Confronto

I

Eis que naquela tarde do dia de natal-que-não-era-natal, numa rua qualquer, um jovem ia correndo, ansioso, ao seu tão esperado encontro. A viagem havia sido árdua, muita coisa havia acontecido, mas ele acreditava estar convicto das escolhas que fez, acreditava estar fazendo o que seu coração mandava. Fazia frio, mas ele se sentia tão animado e vibrante que sentia calor, naqueles 20 graus abaixo de zero. Tanto que ele tirou seu casaco e seu suéter, correndo como louco sobre a neve, tão contrastante com a cor da sua roupa e da sua pele, apenas de jeans e camiseta.
Mas o encontro tão esperado deu lugar a outro totalmente inesperado. Num inaudível som de uma pancada seca, todos aqueles pensamentos que fervilhavam na cabeça dele entraram em colapso. Toda aquela ansiedade e excitação deram lugar a uma perplexidade mórbida. A queda de seu corpo rumo à espessa camada de neve à beira da calçada passou como o breve instante de uma eternidade. Foi o suficiente para ver – mas não para acreditar nos seus próprios olhos – quem lhe havia golpeado em pleno tórax. Um golpe que parecia haver-lhe parado seus batimentos cardíacos por um instante, um verdadeiro choque, que lhe pareceu a ruptura de uma realidade frente a outra. Os presentes em sua mochila, trazidos de um lugar distante, foram comprimidos com o peso de seu corpo caindo sobre eles. Ainda sem saber exatamente o que aconteceu, tão repentina e inesperadamente, o jovem tentou erguer-se perante seu imóvel agressor desconhecido, num misto de pavor e perplexidade. Ainda erguendo-se, ele mirou seu agressor e sua aparência era chocantemente semelhante à sua, mas havia algo de diferente.
Ele usava um casaco e um gorro totalmente estranhos para aquele país, aliás, para aquele continente. Eram andinos, aparentemente de alpaca, de cor cinza, com motivos negros de origem inca. Tinha um colar também, feito de contas graúdas e negras como a cor de seus olhos e sua barba. Seu semblante era de um jovem cansado, vívido e exausto ao mesmo tempo, e, pelas suas vestes, deveria estar com frio, mas seus olhos tinham tamanha serenidade que só não era confundida com pura frieza por causa do brilho em seu olhar. Finalmente levantando-se, o jovem não conteve seu espanto diante daquele estranho ser e, balbuciando em algum idioma, perguntou-lhe quem era. O jovem em trajes andinos respondeu-lhe: “Eu sou você amanhã”.

II

Após o choque inicial, o futuro apresentou-se ao passado, e explicou-lhe a que veio, mas não como. O futuro disse-lhe “Eu vim te salvar do momento que estava prestes a acontecer se não fosse a minha intromissão. O encontro aonde você estava indo será a porta de entrada para um mundo de ilusão e sofrimento inimagináveis que eu tenho a certeza de que você não vai querer sentir. Digo isso por experiência própria”.
Incrédulo, aguerrido ao apego que sentia, o passado não compreendia nem queria compreender o que o futuro lhe dizia: “Mas eu vim de tão longe para chegar aqui, eu lutei tanto para que isso acontecesse, eu rezei tanto, foram tantas noites, tantos quilômetros, tantas palavras e sentimentos... Não posso desistir agora. O que farei da minha vida se eu simplesmente abrir mão de tudo isso?” E o futuro explicou-lhe: “A felicidade e a auto-realização, o sentimento de ser um ser completo vem, antes de tudo, de si mesmo, do interior. Se você depositar sua felicidade e realização em algo externo, inexoravelmente se condenará a perdê-lo um dia, porque o que é alheio está fora do nosso controle. O nosso ser, a nossa alma, esta sim deve estar completa em si mesma, e então você se tornará um ser pleno, inalcançável. Digo isso, por experiência própria”.
Continuando, o futuro disse: “Este ser diante de seus olhos é o resultado das ações que você ia desencadear neste momento, não fosse a minha intervenção. Desde este exato momento estou fadado a desaparecer, já que este encontro irá mudar o futuro e tudo o que me moldou do jeito que sou agora, mas é o preço que tenho que pagar. Escute-me: o amor que você tem por este lugar, por esta pessoa que você vai encontrar em instantes, é algo muito nobre e belo, não deixe que isto se torne um apego destruidor que pode arrasar a sua vida. Acredite não só nos seus sentimentos, mas também na sua razão. Observe o campo e os acontecimentos ao seu redor e saiba que o mundo é muito maior do que isso, pleno de outras possibilidades, e é muito, muito importante que você conheça a si mesmo para que toda essa engrenagem funcione. Discorde. Desvencilhe-se. Desobedeça. Não atenha-se demais ao problema para encontrar a solução. Busque-a do lado de fora. Eu sei que parece confuso, mas um dia você entenderá...” E, ao falar isso, o futuro começou a desaparecer, a virar um espectro cada vez mais tênue, com um semblante pesaroso, quase em prantos, com um olhar distante de quem se lembra de algo muito doloroso... Mas, em seus últimos momentos, diante de um passado perplexo, ele sorriu gentilmente, tirou seu colar e o entregou nas mãos do passado, dizendo-lhe: “Este é um colar Emberá. Lembre-se disto” e se foi. Ao tocá-lo, o passado entrou num transe momentâneo. Uma torrente de pensamentos e imagens veio-lhe à mente, pensamentos que o remetiam a um futuro não tão distante, mas assombroso.
Passado e futuro já não mais existiam como entidades distintas, conjurando-se então num único corpo trans-temporal, capaz de controlar seu destino e de dominar e compreender as conseqüências de seus atos.

III

O jovem finalmente chegou ao seu encontro final. O Universo havia conspirado para que aqueles dois seres se encontrassem, enfim, mas as conseqüências, agora, seriam outras. Após a euforia inicial, meses à frente foram definidos em alguns longos minutos de conversa. Longos minutos estes bastantes para que o jovem desse conta de si mesmo e do grande erro que estava cometendo, da loucura que haveria de abater-se-lhe a partir de então, da prisão que construiria em torno de si mesmo. Mudo, ele a deixou em prantos e partiu. A partir daí, um novo futuro seria forjado. A partir daí, novas possibilidades se abririam. Novas variáveis entrariam em campo e para tal, não havia eu futuro que lhe viesse explicar, mas agora, ele tinha um conhecimento e sabedoria transcendentais, que o tornavam como um navio impávido atravessando calmamente um mar tempestuoso. Cálidos foram os braços de quem o recebeu e que o viu partir mais uma vez, rumo ao desconhecido.

Enquanto isso, em algum lugar do Oceano Pacífico...


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"Não atenha-se demais ao problema para encontrar a solução. Busque-a do lado de fora."

terça-feira, 23 de março de 2010

(Quando) Este mundo não nos pertence(r)

(When) This world doesn't belong to us

Quando houver uma sociedade justa, de direitos e deveres iguais a todos,

When society will be fair, with equality of rights and duties for all,

Todos os cidadãos tiverem as mesmas oportunidades de educação de qualidade e bons empregos, sendo valorizados por sua capacidade, não por sua aparência ou origem,

When all citizens will have the same opportunities of high quality education and good jobs, being valored by their capacity, not by their look or their origins,

Não existirem analfabetos, filas em hospitais, policiamento ostensivo nas ruas,

No illiterates, no lines in the hospitals, no police patrol on the streets,

Fome, desemprego e violência forem termos caídos em desuso, por não existirem mais tais coisas,

Hunger, unemployment and violence will be terms no longer used, for such things don't exist anymore,

Quando não houver mais lixo, poluição e riscos ao meio-ambiente,

When there will be no more garbage, pollution and risks to the environment,

Quando a humanidade viver em paz e cada ser humano tratar o outro com amor e dedicação pelo seu bem-estar,

When humankind will live in peace and each human being takes care of the others with love and dedication for their welfare,

Nossos olhos não estarão aqui para ver isso.

Our eyes won't be here to see that.

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Ouça o silêncio... / Hear the silence...

sexta-feira, 12 de março de 2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

Rappel

Rappelling

Um salto. Um leve movimento com a mão direita, cerrando o punho alguns milímetros, e o corpo, que fazia uma semi parábola em queda livre, leva um solavanco e é lançado para frente com uma velocidade ainda maior que a inicial. O corpo vira praticamente de cabeça pra baixo e o lugar onde era impensável que pessoas andassem, se torna perfeitamente atingível. Um leve abrir de mãos e outro arremesso do próprio corpo, dessa vez rumo ao solo, em uma velocidade ainda maior. Novamente o punho se fecha, dessa vez com mais força, pra conter tanta rapidez, e os pés calmamente atingem o solo.

A jump. A slight move on the right hand, tightening its grasp a few millimeters and then the body, falling on a semi circle fashion, is thrown forward moving even faster. The body gets basically upside down and the place where earlier it was unbelievable that people could walk on, now is perfectly reachable. A small move, loosening the hand and then the body is thrown once again, now towards the very ground, faster than never. One more time the fist tightens, now even more, in order to counter such great speed, and the feet quietly reach the ground.

Em que ambiente isso poderia ser feito? Como um simples abrir e fechar de mãos pode controlar o equilíbrio do corpo, em queda, de modo a revertê-la e alterar sua velocidade e sua trajetória, no fim neutralizando-a?
Que mente consegue controlar tudo isso em apenas 2 ou 3 segundos?

In what kind of environment could it ever be done? How come a simple tightening and loosening of the hands could control the body balance, falling down, reversing it and changing its speed and path, neutralizing it on its very end?
What kind of mind could control all this in just a matter of 2 or 3 seconds?

Isso é uma das coisas que o rappel me proporciona. Apesar de aparentemente ser uma atividade mais ligada ao físico, um esporte radical, com risco constante de acidentes até mesmo fatais, o rappel pra mim sempre foi como uma filosofia de vida, uma terapia psicológica, uma senda para mim mesmo. Através dele, conheci mais sobre si, aprendi a controlar meus reflexos, quebrar limites, reinventar minha maneira de enxergar o mundo e a minha própria vida. Estamos acostumados a viver com o chão aos nossos pés e o céu sobre nossas cabeças, a sentir a lei da gravidade e de ver tudo somente por essa ótica mas o rappel contraria tudo a que estamos acostumados desde que viemos a esse mundo, tornando-nos possível aquilo que era impensável, como caminhar pelas paredes e controlar nossos corpos através de simples movimentos com as mãos.

That’s one of the things rappelling gives me. Although it looks like a physical-related activity, an extreme sport, with accident risks, even mortal ones, rappelling for me has always been like a way of life, a psychological therapy and a path to my inner self. Through it, I learned more about myself, I learned to control my reflexes, break limits, reinvent my worldview and my own life. We’re used to live with the earth beneath our feet and the sky upon us, to feel the gravity laws on us and see the world from this point of view, but rappelling contraries everything we’ve been used to, making possible what was unthinkable, like walking on walls and controlling our body movements through simple hand moves.

O rappel muda a forma de se enxergar as coisas. O que é um prédio vira um desafio, o que é um pilar vira um ponto de ancoragem, o mirante atrás da barra de proteção vira o limiar entre a vida e a morte. É como se o rappel abrisse as portas pra um outro mundo, cheio de novas possibilidades. Mas isso não se encerra só ao rappel. Na minha vida cotidiana eu vejo reflexos dessa prática. Por vezes, quando me vejo numa situação em que devo agir rápido, como ao atravessar a rua e ser surpreso por um carro, eu vejo tudo com bastante calma, como se tudo se passasse mais lentamente pelos meus olhos. Outro dia, calculei ter tomado cerca de 5 decisões em uma fração de segundo, ao atravessar a pista, um ônibus vinha em minha direção, e calculei que eu poderia atravessar antes que ele me atingisse, mas logo em seguida vinha um taxi, muito mais rápido, então ponderei em que reação o motorista teria; certifiquei-me que os farois do carro me iluminaram e que o motorista já tinha me visto, enquanto eu observava do outro lado da rua outro carro que vinha em sentido inverso, uma placa de passagem de pedestres, sinal de que eles veriam que teriam que parar. Percebi que o taxi diminuiu a velocidade ao me ver e que o outro carro, em sentido inverso, estava afastado, assim, eu poderia atravessar metade da pista e esperá-lo passar, para atravessar o resto. Isso tudo em cerca de um ou dois segundos, que passaram tão lentamente quanto 10 ou 15 segundos na minha mente, tendo toda a calma para agir. Percebi que isso era o mesmo processo que acontecia em certas manobras de rappel, como o “lance em dois tempos” (a manobra descrita no início do texto). Eu tinha que agir em frações de segundo, levando vários fatores em consideração, como distância da borda (ponte/passarela), velocidade, rigidez da corda, tipo de clipagem (dois ou três pontos de atrito (quanto mais pontos de atrito, mais devagar é a decida)), freio e o tempo de reação, ou seja, quando exatamente apertar o freio, cerrando o punho.

Rappelling changes the way we see things. What was a building, now is a challenge, what was a column, now is a fixing point, the belvedere behind the protection bar is the edge between life and death. It’s like rappelling opens the door to another world, full of new possibilities. But it doesn’t only concern rappelling itself. In my daily life I see consequences of this sport. Some times, when I’m in a situation that demands me to act quickly, like to be surprised by a running car upon crossing the street, I watch everything very calmly, like it happened much slower in front of my eyes. Not long ago, I calculated that I took 5 decisions in a matter of fractions of a second, when crossing the street, I saw a bus running on my way and I calculated that I could cross the street before it could reach me, but then from behind it came a taxi, running much faster, then I considered the driver’s reaction: I made sure his lights showed me up so that he could see me clearly, while I noticed that in the other side of the street, another car was incoming, in the opposite direction, a walker pass sign, meaning they should be aware that they’d have to stop. I saw that the taxi driver slowed down upon seeing me and the other car, coming in the opposite direction, was more distant, allowing me to cross half of the road and wait it pass through, for crossing the road at last. All this took about 1 or 2 seconds, that passed as slow in my mind as 10 or 15 seconds, giving me all the time I needed to act. I realized that it was basically the same process that happened in some rappelling descents, like the “two turns jump” (the jump described in the beginning of this text). I had to act in a minimal time, taking many factors in consideration, such as distance from the board (bridge/overpass), speed, density of the rope, type of equipment setting (two or three friction points (the more the points are, the slower is the descent)), break and reaction time, that is, when exactly I should break, tightening my hand on the rope.

Outra manobra que mexeu muito com os meus reflexos foi o pqd (abreviatura de para-quedas, devido à posição de descida ser a mesma de um paraquedista em pleno ar). No início, era muito difícil controlar o freio, porque minha mão travava a corda, fazendo o corpo, que deveria ficar na posição horizontal, se desequilibrar totalmente. O pqd proporciona uma outra visão da descida de rappel, já que na descida padrão o praticante encontra-se de costas para a paisagem. No pqd, ele deve encarar a descida de frente, o que dá uma sensação de queda muito maior, ainda que seja uma descida como qualquer outra. Tive muita dificuldade em dominar essa manobra, porque meus reflexos eram mais fortes do que eu. Pelo que o cérebro entende, a situação é de queda-livre (pqd é uma das manobras de descida mais rápidas que existe), e, como disse, a visão do solo se aproximando é muito mais assustadora do que descer de costas. Assim, minha mão automaticamente travava o cabo, fazendo com que eu parasse, tentando me salvar da queda, e muitas vezes parecia que eu não tinha controle sobre a minha própria mão e meus reflexos.

Another maneuver that played with my reflexes was the pqd (in Portuguese, abbreviation for parachuting, given the similarity of the position of a parachutist when free-falling). In the beginning, it was very hard to control the break, because my hand locked the descent, making my body, supposed to be on a horizontal way, lose its balance, flickering down or upwards. Pqd gives another vision for the rappelling descent, if compared to the traditional back-oriented way of descending. On pqd, the landscape is faced directly, so the sensation of falling is much bigger, even though it’s a common descent. Controlling this kind of descent was very hard for me, because my reflexes were much stronger than me. My brain understood that I was free falling (pqd is one of the fastest way of descending) and, like I said, the vision of the ground coming closer and closer is much scarier than descending on the back. Thus, my hand automatically locked the rope, causing me to stop, trying to save me from falling onto the ground, and many times it looked like I couldn’t control my own hand and my reflexes.

Hoje não tenho o mínimo temor ao executar um pqd. Quando adquiri mais experiência, executei um pqd na positiva, ou seja, num paredão, e aí a situação é ainda mais estranha: eu corri na parede, em direção ao chão e aos meus companheiros que lá estavam! Isso é uma inversão total de tudo a que nós nos acostumamos durante a vida, de andar no chão e ver as paredes à nossa frente. Além disso, no fim, é necessário saltar para sair da torre e aí a sensação é de voo, como se eu pulasse e não mais voltasse ao chão e sim pousasse no que até então era a parede. Através de manobras assim e de muito treino consegui controlar meus reflexos e hoje os uso conscientemente. Isso é o aprendizado que o rappel me dá, o desenvolvimento pessoal e o caminho ao auto-conhecimento dos quais eu, sem saber, tanto precisava.

Nowadays I’m not afraid at all to descend pqd. When I acquired more experience, I descended pqd on a wall, and the situation is even weirder: I ran on the wall, towards the ground and to my mates down there! That’s a total inversion of everything that we’re used to in all our lives, walking on the ground and seeing the walls in front of us. Furthermore, it was necessary to jump from the very base of the tower, to leave the wall, and then the feeling is like flight, as if I jumped and no more came back to the ground but landed on what was the wall back then. Through maneuvers like that and a lot of training I could control my reflexes and today I use them consciously. That’s the lore acquired through rappelling, the self development and the path to self consciousness, which I, unaware of this, so much needed.

Através do rappel eu abri meus horizontes, percebi como é possível mudar a realidade, fazer coisas que antes pareciam improváveis, como o próprio rappel era pra mim. Conheci muitas pessoas e lugares novos, encarei desafios como caminhar 30km, de madrugada, carregando cerca de 20kg de equipamento ou subir uma torre abandonada de 30m de altura, fazer trilhas noturnas na floresta, saltar de pontes, deitar de cabeça pra baixo num paredão a 40 metros de altura, e tantas outras experiências que não só se resumem ao rappel mas que também influenciam na minha vida cotidiana. Uma dessas experiências foi quando me perdi na floresta, carregando 110m de cabo e equipamento, totalmente desequipado e inexperiente (era a primeira vez que eu acampava) e vi aqueles que eu chamava de amigos me deixarem pra trás, apesar de verem minha dificuldade e de serem mais experientes e estarem melhor equipados do que eu. Foi então que eu resolvi não me desesperar, mas sim procurar uma saída, acreditar em mim. Segui meus instintos e consegui chegar até um rio, que ficava próximo do nosso acampamento, onde tive que atravessar, caindo várias vezes (os 110 metros de corda que eu carregava ficaram bem mais pesados quando se molharam) e ainda atravessando mata fechada, descalço, de bermuda e camiseta. Foi aí que eu mudei a forma de encarar as coisas: eu passei a enxergar tudo como um teste, onde eu deveria mostrar que sou capaz de achar meu caminho e vencer as dificuldades. Ao invés de crer que eu estava perdido, de lamentar ter sido deixado pra trás, enxerguei aquilo como uma oportunidade de provar minha garra e força de vontade. Consegui atravessar a mata, subindo morros até chegar ao acampamento, com o equipamento intacto em mãos e surpresa daqueles que me deixaram pra trás. Aprendi com isso a acreditar em mim, não confiar demais nos outros e prometi a mim mesmo que nunca deixaria isso acontecer com ninguém em minha companhia.

Through rappelling I opened new horizons, I realized that it’s possible to change the reality, make things that seemed to be impossible, like rappelling itself was for me. I met many new people and new places, I accepted challenges like walking 30km (18mi) carrying nearly 20kg (44lbs) of equipments, or climbing up an abandoned 30m (98ft) high tower, walk through the forest at night, jump bridges off, lay down upside down atop a 40m (131ft) high wall and many other experiences that don’t regard only rappelling but also influences my daily life. One of these experiences happened when I got lost in the forest, carrying 110m (360ft) of rope and equipments, completely unequipped and inexperienced (it was the first time I ever camped) and I was left behind by those who I considered my friends, although they saw how difficult it was for me to follow them and they were much better equipped and more experienced than me. In this very moment I decided not to panic and to find a way out, believe in myself. I followed my instincts and eventually I reached out a river, which was close to our camp, and I crossed it, falling several times (the rope got much heavier wet) and crossing the woods, with my bare feet, shorts and t-shirt. Then I changed my way of seeing things: I started to look at that situation like a test, where I had to show that I could find my way out and overtake my difficulties. Instead of thinking that I was lost, regretting having been left behind, I then faced that as an opportunity to prove my bravery and the power of my will. I crossed the woods, climbing up hills till I reached the camp, with the equipment untouched and the surprised faces of those who left me behind. With this, I learned to believe in myself, don’t trust people too much and I promised myself that I would never allow such thing happen to anyone near me.

Como disse, o rappel me fez abrir meus horizontes e me tornou mais susceptível a mudanças, e isso é devido não só a essas experiências, como citei acima, mas ao que muitos falam sobre sua prática: o risco de vida. Verdade seja dita, todo praticante de rappel já pensou em morte e muitos são desapegados à própria vida, como eu era. Durante uma época, eu até encarava isso como uma honra, se eu morresse fazendo rappel, eu morreria feliz. Por mais que isso pareça loucura, suicídio, esse foi o primeiro passo para mudar minha vida: me desapegar de tudo, da minha própria existência, tornar-se capaz de tudo e deixar os medos pra trás. Como costumo responder ao me chamarem de corajoso por fazer rappel, parafraseando o personagem interpretado por Marco Nanini no filme “Lisbela e o Prisioneiro”, Frederico Evandro, pistoleiro do sertão alagoano: “Não é coragem, é costume”.

As I said, rappelling made me open my horizons and made me more likely to change, and that’s due not only to these experiences, cited above, but to the fact that many people talk about, regarding rappelling: life risk. The truth is that everybody who practices rappelling already thought about death and many don’t care too much about their own lives, like I didn’t. There was a time that I faced death with honor, in the case of dying rappelling, I’d die happy. Although it seems madness, suicide, that was the first step for changing my life: to don’t care about anything, at my own existence, become able to do anything and leave my fears behind. I use to reply when people say I’m brave, quoting a character from a Brazilian movie called “Lisbela e o Prisioneiro (Lisbela and the Prisoner) played by Marco Nanini in the role of Frederico Evandro, a murderer from the arid hinterlands of Alagoas state: “It’s not bravery, I’m just used to it”.


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Foi lá / It was there

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sobre a distância e os sentidos


About distance and senses

Eu meditava muito sobre tempo e espaço e não foi por acaso que estes foram alguns dos primeiros temas abordados neste blog.

I used to meditate a lot about time and space, and it was not accidentally that these were some of the first subjects targeted on this blog.

Meditei até perceber que a distância não existe e o Universo é um sistema único, do qual fazemos parte e ao qual estamos parcialmente conectados. Parcialmente, enquanto humanos, em uma forma física distinta.

I meditated until I realized that distance itself doesn’t exist and the Universe is a single system, whose we’re a part of and we’re partially connected to. Partially, as human beings, in a particular physical aspect.

A forma que está conectada a tudo, que não se prende a um forma só, é a que tudo abrange, é o que alguns chamam de Deus.

The form connected to everything, unbound to a single form, that spreads on everything, is what some call God.

Conclui que por mais que o Universo seja infinito e o tempo eterno, a distância entre dois pontos, sejam eles temporais ou espaciais, serão sempre finitos...

I concluded that even that Time and Universe are endless, the distance between two points, no matter temporal or spatial ones, will always be finite…

...


It's been a long time I haven't posted in English here, I'm sorry.


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Nebulosa Cabeça de Cavalo / Horsehead Nebula

quarta-feira, 3 de março de 2010

O passado


Em algumas línguas indígenas americanas, como Tupi e Mapuche (Chile), só há um tempo verbal, o pretérito. Enquanto que no português e outras línguas há presente(s) e futuro(s), nelas, as ações são todas descritas no passado. Como isso funciona na prática eu não sei, mas a lógica é bem simples, se comparar com a nossa língua: o que é o presente? O que é o futuro? O momento em que você começou a ler este texto, alguns segundos atrás, já é passado, aliás, o momento em que você está lendo esta palavra “passado”, já é passado agora mesmo. Entendeu? E o que você vai ler daqui a alguns segundos, que neste momento é futuro, já virou presente no momento em que você o leu e agora já é passado, ou seja, o que importa mesmo é o passado, pois futuro e presente uma hora acabam, mas o passado é eterno.

Isso me faz lembrar um texto que eu mesmo escrevi, variáveis de tempo e espaço:

O tempo existe apenas para quem pode senti-lo, afinal, o que nos faz percebê-lo é o envelhecimento de nossos corpos e do ambiente ao nosso redor, os ciclos de nascimento, amadurecimento e morte, os movimentos de rotação e translação, mas no fim das contas, os dias são essencialmente iguais.

Somos como aquele pontinho que viaja pela barrinha do youtube, ou qualquer programa de reprodução de músicas. A música está ali, sem início, meio e fim, quieta, no lugar dela, e nós a tocamos e vemos seu tempo de duração passar, indo do início ao fim da barra. O momento atual de exibição passa tão rapidamente que é como se não existisse, em suas frações de milésimos de segundos e o que era futuro no início, após esse ponto vira passado, mas é esse processo, é essa passagem que nos faz ouvir a música como um todo.

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Quanto mais escrevo neste blog sobre esses temas, mais vejo como tudo está interligado e cada vez menos tenho a dizer...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Deitado eternamente em berço esplêndido


O Brasil detém um recorde mundial de ser o maior país desconhecido do mundo. Sabe o Mali? O Laos? Nauru? Pois bem, o Brasil é quase tão desconhecido quanto estes países mundo afora, a despeito de ser o quinto maior país do mundo em território e população, e ser uma das 10 maiores economias do mundo. Aqui na Rússia por exemplo, quase ninguém sabe nada sobre o Brasil, com exceção de uns e outros que ouviram falar do nosso carnaval e futebol. É impressionante notar como o Brasil ocupa praticamente a metade de um continente, sozinho é maior do que a Europa e a Oceania, tem uma população multi-étnica, com descendentes de povos de todas as partes do planeta, e ainda assim poucos sabem que falamos português (e não espanhol, ou “brasileiro”) e que nossa capital é Brasília. Uma coisa que me deixa estupefato é o Mercosul ser conhecido no exterior como “Mercosur”, em sua nomenclatura espanhola. Ora, a maioria esmagadora da população deste tal “Mercosur” ignora tal termo, porque falam português e o chamam de Mercosul. Seja em território, economia ou população, o Brasil é muito maior do que o resto do bloco, mesmo assim, conta-se como um país só, logo, minoria.

Fico pensando se isso não seria uma característica natural nossa, de sermos meio que um mundo à parte, embora sejamos alegres e hospitaleiros para quem quer que chegue. O Brasil tem uma certa magia que engole a todos silenciosamente. Em outros países com população multi-étnica, como Rússia e Estados Unidos, há segregação, há diferença, como aqui mesmo na Rússia eu vejo que há povos que se identificam dentro de sua comunidade mas não se consideram russos e sim tártaros, udmúrtios, bashquíres, óssetios, chukchas e por aí vai. Nos EUA, há diferença entre negros, brancos, asiáticos, nativos, e entre si igualmente, como tribos nativas (hopis, iroqueses, navajos, sioux, etc) e descendentes de diversos povos europeus, a exemplo de irlandeses, alemães e italianos. Mas no Brasil o buraco, como sempre, é mais embaixo. Todo mundo é brasileiro, e pronto. Em Salvador eu tinha muitos vizinhos chineses, e seus filhos, nascidos ali, são tão brasileiros quanto eu, cuja árvore genealógica inteira provém do Recôncavo Baiano. Todos falam português, apesar de serem livres para aprender os idiomas que bem entenderem. Aliás, a língua portuguesa é uma parte imprescindível da nossa identidade. Talvez haja uma ligação entre isso e o fato de a família real portuguesa ter fugido para o Rio de Janeiro, no século XIX, dando aí uma unidade política ainda mais forte à colônia, e, mais tarde, com a independência relativamente pacífica, foram todos ficando por ali mesmo, e não havia porquê de seus habitantes estranharem uns aos outros.

A verdade é que esse período que tenho passado no exterior me fez refletir sobre isso tudo. Tive contato com gente de vários países, como Indonésia, Colômbia, Egito, Venezuela, Turquia, Japão, Itália, China e Estados Unidos, fora gente de várias partes da Rússia, equivalentes a outros países, e vi que todos eles poderiam ser brasileiros. A diferença entre nós e esses povos é que nós não somos um povo convencional, uma etnia, com feições características e isolados em seu nicho. Nós somos todos eles, mas eles não são nós. Nós somos únicos, e a ignorância mundial acerca do Brasil é como um véu que esconde um tesouro...


Mar da Tranquilidade

domingo, 31 de janeiro de 2010

Eu estou errado


É quase via de regra, ainda que, por vezes, inconscientemente, levamos em consideração as afirmações alheias como verdades e/ou como ponto de vista e crença daquela pessoa em relação a algo. É uma força invisível que impregna a “nossa verdade” em tudo o que dizemos, aliás, a afirmação por si só tem como essência expressar o pensamento assim como este veio da nossa mente, a nossa vontade de expressar, nossas ideias. Tudo que falamos é tido como genuinamente o que pensamos que seja verdade, e muitas vezes assim o é, mas o meu propósito de escrever isto é justamente desconstruir essa ideia. Em primeiro lugar, afirmo: Eu estou errado! Nunca tive o propósito de que ninguém acreditasse que o que aqui escrevo seja verdade, embora tudo assim pensei. Mais do que isso, quero desconstruir este conceito de levar as afirmações a esse pedestal da crença e estimular o senso crítico e as nossas outras formas de percepção. Veja, ouça, finja, sinta, conteste, prove aquilo que chega até os seus sentidos, se assim achar que vale a pena.

“Estar errado”, por sua vez, tem uma conotação negativa, ligado a falha, erro e a tudo que não presta, mas reconhecer que se está errado pode ser o primeiro passo a mudar toda uma situação. Acreditar de mais em si e nos seus valores pode se tornar um cabresto que nos impede de ver o que está ao nosso redor e as possibilidades que se perfazem. Ao reconhecer o erro, ter a humildade de recomeçar e se adequar, se modificar e se enriquecer com as novas experiências que lidam a esse processo pode ser uma dádiva de valor inestimável, e é este o caminho que tenho trilhado arduamente nos últimos tempos.

A imagem é a falta dela.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Adaptação

Адаптация


É engraçado como agora é difícil escrever no teclado português. Passei alguns segundos procurando as teclas como o iniciante que eu era na digitação há tantos anos atrás, porque já me adaptei tanto ao teclado russo que agora enxergo as teclas em cirílico melhor que as em latim.


Прикольно как мне трудно на португальской клавиатуре печатать сейчас. Я несколько секунд искал буквы как будто я много лет назад с португальской клавиатурой, потому что я уже так привык с русской клавиатурой, что мне легче кириллицу читать, вместо латинские буквы на неё.


Da mesma forma, hoje tomo chá praticamente todos os dias, percebo a diferença dos sabores e já não posso viver sem eles.


Так же, пью чай почти каждый день, я вижу разницу между вкусами и не могу жить без них.


10 graus abaixo de zero pra mim é calor, tenho vontade de abrir o casaco, tirar o gorro e as luvas na rua.


-10С градусов для меня – тепло. Мне хочется открывать куртку, снимать шапку и перчатки на улице.


Não consigo entrar em casa com sapatos, tenho que tirá-los na entrada, até quando estive na Itália, onde isso não é via de regra.


Я не могу входить в дом в обувях, мне нужно их снимать у входа, даже когда я был в Италии, где не обязательно надо это делать.


Ao entrar no banheiro, minha mão busca automaticamente o interruptor fora do banheiro, e não dentro, como eu era acostumado a minha vida inteira.


Входя в туалет, мои руки автоматически ищут включатель снаружи туалета, а не внутри, как мне было обычно по всей жизни.


Um amigo meu brasileiro recém-chegado me perguntou quanto era 54 rublos em reais e eu tive dificuldade em responder, ele mesmo conseguiu calcular mais rapidamente que eu, daí percebi que eu tinha dificuldade em converter rublos em reais porque já não era mais preciso. Entendo rublos como rublos, não preciso mais convertê-los em reais como antes, afim de entender o custo.


У меня Бразильский друг, который недавно приехал сюда, меня спросил, сколько 54 рублей на реал получается, а мне было трудно ответить, он сам придумал быстрее, чем я. После этого я обнаружил, что я понимаю цены на рубли, мне уже не надо менять валюты, чтобы понимать сколько стоит всего, как я раньше делал.


Quando ando de ônibus ou algum outro meio de transporte coletivo dentro da cidade, me oriento pelo som interno e não mais pela janela, até porque as janelas estão congeladas, quase não dá pra ver nada do lado de fora.


Когда езжу на авто/троллейбусе или на трамвае я знаю, когда выходить из-за звука, не смотря с окна. Окна замерзли, с них ничего не видно, все равно.


Sinto o pulsar das minhas veias mais forte nos pulsos, quando minhas mão estão com frio, e a dor que sentia antes hoje é um mero incômodo.


Я чувствую свою кровь бежать внутри рук сильнее, когда они замерзают, тогда, холодно просто не удобно а не больно, как раньше.


Consigo correr normalmente no gelo, quando antes eu escorregava facilmente.


Я умею бежать свободно надо льдом, а раньше я постоянно упал.


Às vezes consigo me expressar melhor em russo do que em português ou inglês.


Мне иногда легче общаться на русском чем на английском и даже на португальском.


Psicologicamente me sinto mais pleno e pronto a resolver problemas.


Психологически, я чувствую, что мой ум сейчас более развитый, и я готов решить проблемы.


...



Agora a parte mais árdua da tal adaptação...


Сейчас, самая трудная часть этой адаптации...



Адаптация (= привыкание = приспособление – vc pode dizer assim tb)

É engraçado como agora é difícil escrever no teclado português. Passei alguns segundos procurando as teclas como o iniciante que eu era na digitação há tantos anos atrás, porque já me adaptei tanto ao teclado russo que agora enxergo as teclas em cirílico melhor que as em latim.

Прикольно, как мне трудно (прикольно é um estilo, gíria, как мне трудно é um outro estilo, neutro) на португальской клавиатуре печатать сейчас. Я несколько секунд искал буквы, как будто я много лет назад (é melhor dizer «много лет тому назад случилась одна история», mas aqui é melhor dizer sem isso) не имел дела с португальской клавиатурой, потому что я уже так привык с к русской клавиатуройе (привыкнуть к чему-то – dativo), что мне легче кириллицу читать, вместо латинскихе буквы (вместо + nome no genitivo) на неё.

Da mesma forma, hoje tomo chá praticamente todos os dias, percebo a diferença dos sabores e já não posso viver sem eles.

Также (также = e, так же = como assim), пью чай почти каждый день, я вижу разницу между вкусами (вкусами где? Precisa dizer onde ou comparer 2 coisas - sabores de____ e sabores de______ / ou na Rússia e no Brasil) и не могу жить без них (sem que um destes dois?).

10 graus abaixo de zero pra mim é calor, tenho vontade de abrir o casaco, tirar o gorro e as luvas na rua.

Минус 10С градусов для меня – тепло. Мне хочется открывать расстегивать (открывают – дверь, коробку) куртку, снимать шапку и перчатки на улице. (Да ты что!? Заяц! Ты и без этого герой!!!)

Não consigo entrar em casa com sapatos, tenho que tirá-los na entrada, até quando estive na Itália, onde isso não é via de regra.

Я не могу входить в дом в обувиях, мне нужно ееих снимать у входа. Даже когда я был в Италии, где необязательно надо это делать.

Ao entrar no banheiro, minha mão busca automaticamente o interruptor fora do banheiro, e não dentro, como eu era acostumado a minha vida inteira.

Когда я вхожу в Входя в туалет (иначе получается, что в туалет входишь не ты,а твои руки :Р), мои руки автоматически ищут выключатель снаружи туалета, а не внутри, как я привык мне было обычно по всюей жизньи.

Um amigo meu brasileiro recém-chegado me perguntou quanto era 54 rublos em reais e eu tive dificuldade em responder, ele mesmo conseguiu calcular mais rapidamente que eu, daí percebi que eu tinha dificuldade em converter rublos em reais porque já não era mais preciso. Entendo rublos como rublos, não preciso mais convertê-los em reais como antes, afim de entender o custo.

МойУ меня бБразильский друг, который недавно приехал сюда, спросил меня спросил, сколько будет 54 рубляей в на реалах получается, а мне было трудно ответить, он сам догадалсяпридумал быстрее, чем я. После этого я обнаружил, что я понимаю цены вна рубляхи, мне уже не надо менять валюты, чтобы понимать сколько стоит всего, как я раньше делал.

Quando ando de ônibus ou algum outro meio de transporte coletivo dentro da cidade, me oriento pelo som interno e não mais pela janela, até porque as janelas estão congeladas, quase não dá pra ver nada do lado de fora.

Когда езжу на авто/троллейбусе (на авто или на автобусе? Авто = um carro, que rico!) или на трамвае, (quando eu faço alguma coisa) VÍRGULA[eu acho alguma coisa] я знаю, когда выходить, (compara: КОГДА ВЫХОДИТЬ, я знаю)из-за звука, не смотря сиз окна. Окна замерзли, с в них ничего не видно, все равно. (ничего не видно как? Всё равно = > não precisa escrever vírgula aqui)

Sinto o pulsar das minhas veias mais forte nos pulsos, quando minhas mão estão com frio, e a dor que sentia antes hoje é um mero incômodo.

Я чувствую, как моя свою кровь бежитать (não pode dizer «eu sinto» (ou outros pessoas e verbos + infinitivo) ввнутри руках (ou по рукам / по венам рук) сильнее, когда они замерзают, тогда, холодно просто неудобно, а не больно, как раньше. (Это ты такой заяц!?)

Consigo correr normalmente no gelo, quando antes eu escorregava facilmente.

Я умею бежать свободно понадо льдуом, а раньше я постоянно упалпадал. (Упал – 1 раз, падал – много раз. Я тебе побегаю, заяц, смотри у меня! Осторожно, пожалуйста, береги себя!)

Às vezes consigo me expressar melhor em russo do que em português ou inglês.

Мне иногда легче общаться на русском, чем на английском и даже на португальском.

Psicologicamente me sinto mais pleno e pronto a resolver problemas.

Психологически, я чувствую (а можно чувствовать не психологически?), что мой ум сейчас стал более развитымй, и я готов решаить проблемы. (você fala sobre capacidades – então решать, sobre um fito – então решить).



Agradecimentos a Tanya

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Morte

Smert'

Desde o nascimento, a única certeza que qualquer ser vivo tem é a de que vai morrer. Encaramos a morte como o oposto da vida, e, embora ela seja algo tão comum no mundo em que vivemos, ainda sofremos quando alguém, principalmente um ente querido, morre. A dor é sempre certa, por mais que saibamos que este é o destino de todos os seres vivos. Ora, às vezes me surpreende por que tanto sofremos, porque encaramos a morte como o antônimo de vida se ela é tão certa e a todos vem. Os astecas, por exemplo, viam a morte e a vida como sinônimos, não como um ciclo, ou reencarnação, mas como uma consequência da vida. Eles enxergavam todo o universo e os seres humanos como um único sistema, em que nosso sangue lubrifica as engrenagens que movem o cosmos. Para que cada dia amanhecesse, alguém tinha que ser sacrificado, e para muitos isso era uma honra. Morrer em campo de batalha também era uma honra, pois os mortos iam ter com o próprio deus do Sol e da guerra, Huitzilopochtli. Talvez nenhum povo tenha sido tão fascinado com a morte como os astecas.

S togo zhe momenta kogda my rodilis’, edinstvennaja uverennost’ chto u nas est’ v zhizn’ – eto chto my umrem. Smert’ dlja nas kazhetsja naprotiv zhizni, hotja ona takaya obychnaya v mire, gde my zhivem, chto nam eshche bol’no kogda kto-to, osobenno kotorogo my ochen’ lyublili, umiraet. Bol’no vsegda kogda eto sluchaetsja, hotja my znaem chto eto dlja vseh kto zhivet. Nu, inogda mne udivitel’no pochemu nam tak bol’no, pochemu nam kazhetsja smert’ – eto antonim zhizni dazhe esli horosho znaem chto ona v kontse kontsov budet. Atstekam, naprimer, smert’ i zhizn’ byli sinonimami, ne tsikl ili reinkarnatsija, no prosto kak sledstvie samoj zhizni. Oni videli vsyu vselennuyu i chelovechestva kak budto odna i ta zhe sistema, v kotoroj nasha krov’ smazyvaet zubchatye peredachi s kotoryh kosmos rabotaet. Chtoby solntse kazhdym utrom bylo, kogo-to prinosili v zhertvu i dlja mnogih eto bylo chest’. Umirat’ v vojne tozhe chest’, potomu chto te korotye umirayut poshli by k bogu Solntsa i vojny, Uitsilopochtli. Mozhet byt’ nikakim lyudiam kak atstekam smert’ kazalas’ takoj zamechatel’noj.

A verdade é que não existiamos como somos antes de nascer, mas já existíamos nesse mundo enquanto matéria, o nascimento é uma transformação, a vida é um processo e a morte é o retorno. Como princípio, meio e fim que a tudo atinge, quem hoje chora por quem morreu, um dia também irá morrer, assim como todos que vivem. Muitas vezes a morte é um alento, uma dádiva, quando a condição de ser vivente é mais dolorosa do que tudo, quando viver não vale a pena e a morte é um descanso eterno, das dores, das aflições, da agonia. As causas da própria morte fazem parte desse processo denominado vida, e a ocasião é uma consequência de nossas ações, por mais que às vezes pareça arbitrário. Um suicida não escolheu sua morte na hora em que bem quis mas sim porque toda a sua vida conspirou para aquele momento. Há quem diga que só se morre quando tem que morrer, e até o suicídio cai nessa resolução, posto que para que isto aconteça, o suicida deve estar em condições de dar cabo à própria vida. Se o suicida não tivesse que morrer naquela hora, quem sabe ele estaria feliz bebendo com os amigos num barzinho, ou numa viagem, trabalhando, fazendo planos... A própria vida é uma morte lenta, muito lenta, já que velhice mata. É como se começássemos a morrer a partir do nascimento, e o que fazemos até então é o que produz o momento derradeiro.

Delo v tom chto nas ne bylo do rozhdenija, no my uzhe byli v etom mire kak priroda, rozhdenija – eto transformatsija, zhizn’ – eto protsess a smert’ – vozvrashchenie. Kak nachalo, seredina i konets kotorie vseh dohodit, kto segodnja plachet dlja kogo kto umer, zavtra umret, kak vse ostal’nye. Inogda smert’ – eto uteshenie, chudo, kogda zhit’ uzhe zrja, smert’, togda, vechnyj otdyh, ot bol’nej, pechalej, agonii. Prichiny smerti javljayutsja s togo zhe protsessa kotoryj my nazyvaem zhizn’, a sobytie – eto sledtsvie nashih dejtsvij, hotja eto inogda kazhetsja narochno. Kto sam sebja ubyvaet samoubijstvom ne vybral moment svoej smerti prosto narochno no po tomu, chto vsja svoja zhizn’ konspirirovala do togo momenta. Schitaetsja chto tot kto umiraet, umiraet potomu chto vremja doshlo, i dazhe samoubijstvo sovpadaet v etom kontekste, iz-za togo, chto eto tol’ko sluchaetsja kogda chelovek umeet zakonchit’ svoyu zhizn’. Esli etot chelovek ne dolzhen byl umirat’ v tot moment, on byl by, dopustim, schastliv v bare s druz’jami s kruzhkami piva, ili puteshestvoval by, na rabote byl by, planiroval chto-nibud’... Zhizn’ sama medlennaja smert’, ochen’ medlennaja, razve starost’ ubyvaet. Eto kak budto my nachinalis’ umirat’ s rodzhenija, a to chem my zanimaemsja vsyu zhizn’ – eto put’ k poslednomu momentu.

Talvez por isso os astecas achavam a vida e a morte tão próximas, e o fato de eles já não mais existirem mostra o quão relativo tudo isso é. Assim como eles morreram, seus inimigos também morreram, assim como nós também morreremos, não há diferença, é só uma questão de tempo.

Vozmozhno imenno poetomu atsteki dumali chto zhizn’ i smert’ takie blizkie, a fakt chto atstekov uzhe netu pokazyvaet kak otnositel’nyj nash mir est’. Kak oni umerli, ih vragi tak zhe umerli, kak my tozhe umrem, bez raznitsy, eto prosto zavisit ot vremeni.


Tanja, ja voobshche ne znal chto skazat’ kogda ja uznal chto tvoj ded umer, hotja vse chto ja tut napisal ja uzhe tebe skazal. Vot tak ja ponimayu smert’, vot tak zhe moja mama umerla, uzhasnoj smert’yu, a ej smert’ ukazalas’ uteshenie. Mozhet tvoemu dedu tak zhe. Poetomu, nam nado naslazhdat’sja v etom mire, potomu chto my ne znaem to chto budet v kontse. Bud’ sil’noj kak ty i est’. Ne znayu chto ty podumaesh’ ob etom tekste, prosto ne nenavid’ menja... Chitaj tekst pro etot zhe blog, tam napisanno chto ja prosto pishu o mire, kak ja ego ponimayu, a ne kak ja hochu. Tak zhe, ne obrashchaj vnimanie na moi oshibki, mne eshche sovsem slozhno na russkoj klaviature pechatat’.


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Humildade

Humility

É ver em tudo sua razão de ser.

Is to see in everything its reason to be so.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Meu blog é desumano

My blog is unhuman

"O destino especificado é inalcançável" é uma mensagem de erro que aparece quando algo muito óbvio não foi feito. Aparecia sempre que eu tentava conectar a internet sem o modem. É como ativar o interruptor sem haver lâmpada, ligar um ferro sem a tomada, essas coisas. A partir daí tudo pode mudar. O tal destino pode ser perfeitamente alcançável, a solução pode ser extremamente simples.

"O destino especificado é inalcançável" (The specified destination is unreachable) is an error message that appears when something obviously wasn't done. I saw it every time I tried to connect internet without a modem. It's like switching lights on without lamps, turning on an unplugged iron, stuff like that. From this on, everything can change. The destination may be pretty much reachable, the solution may be extremely simple.

Já faz tempo que escrevo aqui e nunca parei pra explicar o porquê e a quê este blog se detém, não via uma razão pra isso, afinal quase ninguém vem aqui.
Embora eu use muitos exemplos pessoais para embasar minhas ideias e esvazio minha cabeça das reflexões que atormentam a minha mente, aqui, em texto, este blog vai além de mim, e de você também.
Por isso, desaconselho a qualquer pessoa visitar esta página, e não faço a mínima ideia de como você achou este endereço, mas ainda está em tempo de fugir. Há uma barra na parte superior da janela, clique em "próximo blog" ou algo do tipo. Simplesmente feche a janela ou apenas procure outro site.
Não sei porque você continua a ler este texto, mas enfim, vou explicar por que este blog é desumano, deve ser isso que você quer saber.

It's been a long time I have been writing here, and I never stopped the machines in order to explain why and what is all this blog about. I just didn't saw a reason for it, after all, almost nobody comes here.
Although I use many personal examples for illustrating my ideas and empty my head from the thoughts that haunt my mind, here, in text, this blog goes beyond me, and beyond you too.
Therefore, I hereby do not recommend anyone to visit this page and I have no idea at all how come you found this adress, but you still have time to run. There's a bar attop this page, click on "next blog" or something like that. Simply shut this window or just look for another website.
I don't know why you are still reading this text, but, anyway, I'll explain why this blog is unhuman, probably that's what you wanna know.

Em primeiro lugar, o conceito de desumano em geral é ligado a crueldade, a frieza e a impiedade. Não é bem isso que quero dizer aqui. O que escrevo é desumano no sentido de impessoal, desprovido de alma, de orgulho, de idiossincrasias, não representa apenas meu ponto de vista, mas além disso. Não escrevo o que escrevo porque gosto ou porque quero ver as coisas desse jeito e sim porque foi assim que concluí que elas são, além do mais, meus textos são permeados de relatividade, nada é absoluto. Por isso ninguém pode me criticar, porque eu já dou razão ao meu crítico antes de tudo, qualquer que seja seu argumento. Não que eu me preocupe com críticas.

First off, the concept of unhuman, at least in Portuguese, is associated to cruelty, coldness and impiety. That's not really what I mean here. What I write is unhuman in its impersonal sense, deprived of soul, pride and idiosyncrasies, doesn't represent just my point of view, but more than that. I don't write what I write because I like it or I wanna see things in that way, but because that's the way I concluded things are, furthermore, my texts are permeated of relativity, nothing is absolut. That's why nobody can criticize me, because I agree with the critic even before the argument was given, no matter what is the point. It doesn't mean I really give a damn to criticizing, though.

Este blog se detém a ideias, conceitos, e não a ações ou acontecimentos, mas a tudo o que está por trás deles. Suas ideias começaram a ser incubadas muito tempo antes de sua criação, quando eu me deitava e não conseguia dormir, angustiado ao pensar na magnitude do tempo, da grandeza do espaço, nessas questões que, dizem, todos pensam, "de onde viemos" e " para onde vamos". É mais como uma terapia, aqui descarrego o que me afligia, me ajuda a pensar e a clarear os pensamentos.
Por exemplo, num dos primeiros textos, coletividade, em sua criação literária raciocinei, ao passo que escrevia, e conclui junto com o texto que nós somos um produto de incontáveis gerações, tudo o que usamos e o que nos rodeia assim é, nada é um indivíduo só. Em variáveis de tempo e espaço disserto sobre os conceitos que tanto me esmagavam, o infinito, o eterno. Lembro que esse foi o tema que mais me perseguiu, e eu não tinha com quem conversar. Uma vez conversei sobre isso com o meu pai e ele disse que eu era psicótico. Isso me leva a outros dois textos, utopia, no qual murmuro sobre a relação entre seres humanos, a ambiguidade de suas interpretações e ações neste plano de existência e conflitos, e velho é o mundo, em que percebo que tudo o que se passa comigo e com qualquer outra pessoa certamente já se passou com outras, passa-se agora e passar-se-há com outras.
Talvez por decepcionar-me tantas vezes com esse mundo escrevi sobre o que não existe e sobre o fim de tudo, o que cai outra vez em variáveis de tempo e espaço, o fim de tudo, dentro da eternidade e a inutilidade da nossa existência. A verdade é que todas essas ideias num momento ou outro se interligam, nada é separado, tudo é algo só, assim como eu, você e este universo.

This blog is about ideas, concepts, and not actions or events, but about what is behind them. Its ideas started to be generated much earlier than its own creation, when I laid down and couldn't sleep, anguished, thinking about the magnitude of time, the grandeur of space, those questions that, they say, everybody thinks about, "where did we come from" and "where are we going to". It's more like a therapy, here I unload whatever grieved me, helps me to think and clear my own thoughts.
For instance, in one of the first texts, collectivity, during its literary creation I reasoned, while I wrote, and concluded, along with the text, that we are a product of countless generations, everything that we use and is around us is like that, nothing is just an individual on its own. In variables of time and space I deal with concepts that smashed me, the infinite, the eternal. I remember that this theme stalked me the most and I had nobody to talk about it to. Once I talked about it to my father and he called me psycho. This leaded me to two other texts, utopia*, where I blurb about the relationship between human beings, the ambiguity on the interpretation of their acts on this plan of existence and conflicts, and, in as old as the bones of earth, I perceive that everything that is going on with me or anyone else certainly has already happened with other people before, happens now and shall happen with others as well.
Maybe, for having got disappointed so many times regarding this world, I wrote about what doesn't exist and about the end of everything*, which, once again, boils down to variables of time and space, the end of everything into eternity and the uselessness of our existence*. The truth is that all these ideas, at some point, interconnect, nothing is separated, everything is one single thing, like me, you and this universe.

E isto tudo é posto em xeque pela ideia do nome do blog.

And all this is questioned by the idea behind this blog's name.


Dedicado a Tanya.

Dedicated to Tanya.


*No English translation available

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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Velho é o mundo

As old as the bones of Earth*

Nós humanos temos uma capacidade engraçada de perceber as coisas como se fossem novas, sensações, lugares, pensamentos, acontecimentos, etc. Tudo parece novo, um produto novo, um serviço novo, um lugar novo, mas na verdade, este planeta tem bilhões de anos e sequer estaremos aqui até seu fim, se é que o terá.

We, human beings, have a fancy capacity of perceiving things as if they were brand new. Sensations, places, thoughts, events, etc. Everything looks like new, a new product, a new service, a new place, but the thing is that this planet is billions of years old and we won’t even be here till its very end, in the case it is even gonna have one.

A humanidade, de fato, é nova em relação à idade deste planeta, mas ainda assim, nossa história tem se extendido por milênios e praticamente nada da nossa realidade nunca foi vivenciado por nossos ancestrais antes, especialmente no campo sensorial e emocional, que é como interagimos com este mundo.

Humankind is, in fact, new, if we compare its history to the age of our planet, but even though, our history has been running for millennia and almost nothing of our reality has never really been experienced by our ancestors before, specially in the sensitive and emotive fields, that is, the way we interact with the world around us.

Eu, nos últimos meses, estive em lugares históricos de importância mundial, como Moscou e Roma e fiquei deslumbrado com o que vi, como se tudo fosse novo, pra mim. É claro que assim o é, afinal era a primeira vez que eu ia a tais lugares, mas a história que se passou nesses lugares é muito maior do que a minha vida e a de muitas gerações. Milhões de turistas como eu estiveram lá e muitos haverão de ir e experimentar o que experimentei.

In the last months, I’ve been to places historically important to the world history, such as Moscow and Rome, and I was amazed with what I saw, as if all this were new, for me. Of course it was, for it was the very first time I’ve seen these places, but the history that happened in these places is much longer than my own life and those of many generations. Millions of tourists like me have been there, and many others are to come and experience what I experienced.

O que nos faz pensar que o que nunca vimos antes nos parece novo é que não partilhamos das vivências de nossos ancestrais e o fato é que quase toda a humanidade tem menos de cem anos. Muito absorvemos dos conhecimentos das gerações anteriores, mas tudo ainda nos parece novo, sob a nossa própria ótica. O mesmo com os sentimentos. Amor, ódio, alegria, tristeza, esperança, saudade, agonia, prazer, todos são tão antigos quanto a própria raça humana, mas sempre nos parece algo novo e de nenhum modo estes mudam com o passar das gerações, porque estão sempre sendo vivenciados por novos olhares, novos corpos e novas vítimas.

What makes us think that what we’ve never seen before is really new is that we don’t share the life-time experiences of our ancestors and the fact is that almost the whole humankind is less than one hundred years old. Many things we learn from the knowledge acquired by those who lived before us, yet, everything looks new for us, when it comes to our view point. The same thing with feelings. Love, hatred, happiness, sadness, loneliness, agony, pleasure, they’re all as old as the human race, but they always looks like something new for us, and no matter how many generations are born and experience them, they don’t really change, because they’re always being experienced by new view points, new bodies and new victims.

Nossa história é meramente uma repetição do que já aconteceu antes, seja no Egito antigo, seja em Nova York, seja no subúrbio de qualquer cidade contemporânea ou nas cavernas dos primeiros Homo Sapiens. A verdade é que o que nos diferencia é apenas a tecnologia alcançada e suas consequências meramente dão novos rótulos ao que sempre existia. As necessidades são sempre as mesmas e o que está acontecendo com você agora com certeza já aconteceu com alguém antes, deve estar acontecendo com alguém também agora mesmo e há de acontecer com tantas outras no futuro. Apenas não vivenciamos essas situações por outros olhos, ficamos presos aos nossos corpos e achamos que ninguém nos entende.

Our history is merely a repetition of what happened before, either in ancient Egypt or in New York, no matter if in the ourtskirts of a contemporaneous city or within the caves of the ancient Homo Sapiens. The truth is that what differs us from each other is the technology that we develop and its consequences give no more than new labels to what already existed. The needs are always the same and what happens with you right now surely already happened with someone else before, probably is happening with someone now and shall happen with many others in the future. We just never experienced these situations through someone else’s eyes, we’re trapped inside our bodies and just think nobody understands us.


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*Literally, the original title, in Portuguese, means “Old is the world” but I prefered to translate it using a song’s name by the band Dargaard, “As old as the bones of earth”, which fits better and brings some more information. Worth listening to.


A cópia fiz em 2007, o original é de mais de 1000 anos antes. / I drew this copy in 2007, the original one is over 1000 years older.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Intervalo

Interval

Ultimamente tenho percebido cada vez mais claramente como as nossas vidas estão imbutidas em intervalos. A simples pergunta “Como vai?” deixa isso bem claro. Se pararmos pra pensar, estando bem ou mal agora, é só uma questão temporal, um intervalo entre a última vez que você esteve bem ou mal antes. Mais do que isso, às vezes esquecemos de como estávamos antes e o que fazer, ou não, para mudar o agora.

Lately, I’ve been perceiving clearer and clearer how much our lives are embedded in intervals. The simple question “How are you?” makes it clear. If we bethink, wether you are good or not now is just a matter of time, an interval between the last time you were good or bad before. Moreover, sometimes we forget how we were before and what to do, or not, to change now.

Um exemplo disso, que me fez refletir, foi minha viagem à Itália. Eu havia passado 3 meses na Rússia antes disso, e fui na Itália visitar meu irmão, para voltar e passar mais 3 meses na Rússia. O fato é que viagei tanto nesse período de cerca de um mês que passei fora que às vezes eu me esquecia do plano inicial. Eu estive em 6 cidades em dois países em cerca de 8 dias. Chegava a um ponto que eu me esquecia da minha meta inicial e até pelo fato de a viagem de volta ainda não estar completamente garantida (faltava fazer outro visto pra voltar) eu me sentia como se eu nunca fosse voltar a lugar nenhum. Eis que tudo passou, e agora, é como se eu nunca tivesse saído da Rússia. Percebi que tudo que vivenciei, tudo que passei, os lugares por onde passei, as coisas que experimentei, as pessoas que conheci, o ar que respirei, e tantas coisas mais foram apenas um intervalo entre 21 de novembro e 25 de dezembro (que, por sinal, não é natal aqui, mas sim, coincidentemente, hoje à noite, 6 de janeiro) de 2009.

An example, that made me wonder about this, was my travel to Italy. I had been in Russia for 3 months before it and went to Italy to visit my brother and then go back to Russia for more 3 months. The point is that I had been travelling so much then, in this period of about one month that I’ve been out, that sometimes I forgot the initial plan. I’ve been to 6 cities in 2 countries in about 8 days. Sometimes it came to a point that I even forgot that I had to go back to Russia, even because the way back was not 100% certain, as I still had to get another visa for heading back, and I eventually felt I was not going back anywhere anymore. Finally, everything is gone and now it’s like I never left Russia. I realized that everything that I’ve been through, all the places where I’ve been to, the experiences I had, the people I met, the air that I breathed and so much more things, were actually just a break between november 21 and december 25 (which, by the way, is not christmas here, coincidentaly it is tonight, january 6th), 2009.

Algo semelhante eu sentia quando trabalhava de madrugada e estudava de dia. Eu dormia das 9 da manhã até o meio-dia, ia pra faculdade e voltava por volta das 6 da tarde, pra dormir mais um pouco antes de voltar pro trabalho. Parecia que a faculdade era só um intervalo do meu sono, assim como quem dorme, acorda, bebe um pouco d’água e volta a dormir. Mais do que isso, minha vida era o intervalo do meu trabalho, uma mera pausa, já que eu voltava do trabalho às 9 da manhã e voltava pra lá às 9 da noite.

Something similar came to my mind when I worked night shift and studied day time. I slept from 9am to noon and then went to the university, and came back home around 6pm, to sleep a little bit more before going back to work. It looked like university was just a mere break in my sleep time, like when someone is sleeping, wakes up, drinks some water and goes back to sleep. Furthermore, my whole life was the interval of my job, a mere break, once I came back from work at 9am and went back there at 9pm.

Certamente, quando eu voltar pro Brasil, encerrarei mais esse intervalo que foi a Rússia (Alemanha, Itália e Vaticano, exterior, de um modo geral), mas aí me pergunto: e se eu voltar?
O que determina tudo é a quantidade, e, porque não dizer, a intensidade. Por isso, pessoas me acham otimista quando alguém me diz que está com dor de cabeça, e eu respondo “que bom! Sinal de que geralmente você não tem dor de cabeça, de outro modo você estaria feliz quando não a tivesse”. Mas essa é a verdade, e a vida é uma alternância constante de valores, o bem e o mal, a dor e o prazer, a tristeza e a alegria, dias úteis e fins-de-semana e por aí vai. Um depende da existência do outro e por vezes são relativamente idênticos, como quando eu trabalhava literalmente todos os dias, pra mim, fins-de-semana e dias úteis eram iguais, assim como quando se está de férias, todos os dias são fins-de-semana ou feriados. A verdade é que são todos conceitos e nada disso rege a matéria.

Certainly, when I go back to Brazil, I’ll finish this interval that was Russia (and so Germany, Italy and Vatican, this whole period abroad, generaly), but then I wonder myself: what if I come back here?
The most important is the quantity, and, why not, intensity. That’s why people may think I’m an optimist when somebody tells me s/he has a headache and I retort “that’s good! It means that you usually don’t have headaches, otherwise you’d be glad when you don’t have one”. But that’s the truth, and life is a constant alternation of values, the good and the evil, pleasure and pain, sadness and happiness, work days and weekends and so on. One depends on the other's existence and some times they’re relatively identical, like when I worked literally every single day, for me, weekends and work days were completely alike, just like on vacations, all the days are like weekends or holidays. The truth is that they are all concepts and none of them rule the common matter.

ssa-sd-ssa