sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Deitado eternamente em berço esplêndido


O Brasil detém um recorde mundial de ser o maior país desconhecido do mundo. Sabe o Mali? O Laos? Nauru? Pois bem, o Brasil é quase tão desconhecido quanto estes países mundo afora, a despeito de ser o quinto maior país do mundo em território e população, e ser uma das 10 maiores economias do mundo. Aqui na Rússia por exemplo, quase ninguém sabe nada sobre o Brasil, com exceção de uns e outros que ouviram falar do nosso carnaval e futebol. É impressionante notar como o Brasil ocupa praticamente a metade de um continente, sozinho é maior do que a Europa e a Oceania, tem uma população multi-étnica, com descendentes de povos de todas as partes do planeta, e ainda assim poucos sabem que falamos português (e não espanhol, ou “brasileiro”) e que nossa capital é Brasília. Uma coisa que me deixa estupefato é o Mercosul ser conhecido no exterior como “Mercosur”, em sua nomenclatura espanhola. Ora, a maioria esmagadora da população deste tal “Mercosur” ignora tal termo, porque falam português e o chamam de Mercosul. Seja em território, economia ou população, o Brasil é muito maior do que o resto do bloco, mesmo assim, conta-se como um país só, logo, minoria.

Fico pensando se isso não seria uma característica natural nossa, de sermos meio que um mundo à parte, embora sejamos alegres e hospitaleiros para quem quer que chegue. O Brasil tem uma certa magia que engole a todos silenciosamente. Em outros países com população multi-étnica, como Rússia e Estados Unidos, há segregação, há diferença, como aqui mesmo na Rússia eu vejo que há povos que se identificam dentro de sua comunidade mas não se consideram russos e sim tártaros, udmúrtios, bashquíres, óssetios, chukchas e por aí vai. Nos EUA, há diferença entre negros, brancos, asiáticos, nativos, e entre si igualmente, como tribos nativas (hopis, iroqueses, navajos, sioux, etc) e descendentes de diversos povos europeus, a exemplo de irlandeses, alemães e italianos. Mas no Brasil o buraco, como sempre, é mais embaixo. Todo mundo é brasileiro, e pronto. Em Salvador eu tinha muitos vizinhos chineses, e seus filhos, nascidos ali, são tão brasileiros quanto eu, cuja árvore genealógica inteira provém do Recôncavo Baiano. Todos falam português, apesar de serem livres para aprender os idiomas que bem entenderem. Aliás, a língua portuguesa é uma parte imprescindível da nossa identidade. Talvez haja uma ligação entre isso e o fato de a família real portuguesa ter fugido para o Rio de Janeiro, no século XIX, dando aí uma unidade política ainda mais forte à colônia, e, mais tarde, com a independência relativamente pacífica, foram todos ficando por ali mesmo, e não havia porquê de seus habitantes estranharem uns aos outros.

A verdade é que esse período que tenho passado no exterior me fez refletir sobre isso tudo. Tive contato com gente de vários países, como Indonésia, Colômbia, Egito, Venezuela, Turquia, Japão, Itália, China e Estados Unidos, fora gente de várias partes da Rússia, equivalentes a outros países, e vi que todos eles poderiam ser brasileiros. A diferença entre nós e esses povos é que nós não somos um povo convencional, uma etnia, com feições características e isolados em seu nicho. Nós somos todos eles, mas eles não são nós. Nós somos únicos, e a ignorância mundial acerca do Brasil é como um véu que esconde um tesouro...


Mar da Tranquilidade