O Século XX foi um período de enormes transformações no cenário mundial. Num período de 100 anos muita coisa mudou. Mas e antigamente, como na pré-história, por exemplo? 100 anos para os povos da idade da pedra não representariam nem um dia de avanços tecnológicos para a sociedade globalizada de hoje, ainda que as medidas de tempo sejam as mesmas. Veja os povos da chamada América pré-Colombiana. A grande maioria dos seus indivíduos viveu e morreu antes de terem tido qualquer tipo de contato com o resto do mundo. Qual seria o conceito de mundo para esses indivíduos? Aqueles astecas que não viveram até a chegada dos espanhóis provavelmente nunca imaginariam a catástrofe que iria acontecer. Esses mundos temporais gerados no consciente coletivo até a hora da morte encerrando-se aí o conceito de nacionalidade histórica, como um asteca do século XIV e um mexicano atual. Mesmo sendo do mesmíssimo lugar, ambos os indivíduos são tão estrangeiros entre si quanto se tivessem nascido em lados opostos do globo.
Todo o conceito de identidade que temos é composto por um período histórico que pode mudar com o passar do tempo. Assim, nada é real, como hoje afirmo que o Brasil é a minha pátria, o mesmo não existia há alguns séculos atrás, e nada garante que ele exista num futuro distante. Tudo o que escrevo aqui poderá ser ininteligível ou mesmo inverossímil num futuro indeterminado.
A fonte dessa relatividade, em que tudo é incerto e temporal é que tudo vem da mesma origem, somos um ciclo de intermináveis transformações que vem da matéria que forma este plano de existência. A vida consiste em transformar pó em carne, carne em pensamentos, pensamentos que perscrutam a própria carne, o pó e a vida. A matéria que constitui tudo neste planeta pode ser transformada em qualquer coisa, e é nisso que gastamos toda nossa vida pesquisando e interagindo, transformando matéria em alguma coisa que nos convém. Há um pouco de cada coisa que me manteve e mantém vivo até hoje nestas letras, querendo ou não. A matéria é tão relativa que pode ser simplesmente qualquer coisa, e nós como tolos achamos que podemos controlá-la, escolhendo nomes, definindo-a em verbetes, classificando-a e delimitando-a como se houvesse algo além dela. Neste plano de existência a matéria por mais diversa que pareça é igualmente instável e relativa, sempre em transformação.
A morte é o epílogo da interpretação que fizemos deste mundo.