domingo, 9 de novembro de 2008

Os danos da reciprocidade

A reciprocidade pode nos levar a agir da maneira que mais detestamos. Quando respondemos a um mau tratamento da mesma maneira, transformamos-nos exatamente no objeto do nosso asco. Isso tem acontecido comigo com freqüência cada vez maior, e quero deixar um registro de sanidade aqui, para lembrar-me no futuro de como eu era. Por Deus, não quero agir como agem comigo, não quero tornar-me assim, mas ao que me parece minha personalidade está se moldando dessa forma.

Eu que sempre era atencioso; quando me chamavam, respondia imediatamente, mas quando eu chamava alguém, familiares, amigos, colegas ou não, estes dificilmente escutavam. Agora, por mais que minha percepção seja excelente, eu me recuso a atender algum chamado. Se alguém me chama, ao me ver passar em algum lugar, internamente eu ouço com tamanha percepção que até dói, mas recuso a responder de primeira. Às vezes até ignoro completamente. Se posteriormente confrontado, finjo que não ouvira. Quando converso com alguém e outra pessoa me chama, não lhe dou ouvidos, embora o poderia fazer de imediato, porque é assim que me tratam, e eu detesto isso, pagando na mesma moeda. Começou sendo recíproco aos que me tratam com desprezo, para mostrar-lhes o quão chato isso é, mas aos poucos fui assimilando esse comportamento no dia-a-dia, e de repente percebi que ajo assim com qualquer pessoa. Meu pai adora falar comigo sobre sua vida, sobre o que fez, o que deixou de fazer, e sobre a vida alheia, de parentes e amigos, o que eu não tenho o mínimo de interesse em saber. Mas quando quero lhe falar sobre mim, sobre alguma experiência ou algo relevante, ele simplesmente não me dá ouvidos. Assim o trato agora, e ao persistir, o trato de maneira irônica, mostrando-lhe o quão inúteis aquelas “informações” são para a minha vida. Pronto, este é o ingresso às vias de fato.

Atenção se torna lentidão, simpatia vira indiferença. A reciprocidade forma uma equação: Se você é atencioso comigo que também o sou, somos recíprocos positivos; se eu sou atencioso com você, e você não o é comigo, eu não te darei atenção, causando assim uma reciprocidade negativa. O caminho da misericórdia é ser atencioso ainda que as pessoas lhe destratem, o que pode ser um teste de paciência e pragmatismo, a fim de levar as pessoas a caírem na real e verem o quão grosseiras estão sendo. O caminho da praticidade é a comunicação, que pode ser a chave para resolver muitos impasses. “Porque você não me ouve?”, “Deixa de ser fdp!”, “Eu não te trato dessa forma”, e por aí vai. Ações devem ser ponderadas, levando a uma conclusão. Ou se chega a um consenso ou ambas as partes se isolam. O importante é que ambas estejam conscientes da situação.


Esse comportamento tem chegado a um nível ainda mais complexo: Ignoro quem me destrata ou não me dá atenção. Eu sou legal, procuro sempre o bem daqueles que me cercam, e costumava ser assim ainda que isso não fosse recíproco, seguir aquele caminho da misericórdia. Hoje não, não me importo mais com nada nem ninguém. Cultuo o desapego, a indiferença. Não sei como estarei a esse respeito daqui a um ano ou mais, e se eu ler este texto, ponderarei. A verdade é que eu sempre quis mudar. Deixar de ser bobo. Quem sabe isso é uma coisa boa, a mudança que eu sempre quis. Se eu estava insatisfeito com o meu comportamento antes, muito provavelmente nada de satisfatório aconteceria se eu continuasse a agir da mesma forma. Seja boa ou ruim, essa mudança me trará resultados novos.

Um comentário:

Bruna Rocha disse...

O mal de todo o ser humano é esperar a reciprocidade. Essa é a causa das piores decepções...



Bom, brigada pelo elogio no meu blog. Fico feliz que tenha visitado e gostado!
Espero que volte sempre!

Abraço!