sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Fluência - Pt. 2

1.2. Fluência mental


Ainda abordando a tese sobre fluência, mas já no campo mental e não mais verbal, constatei tão logo que atingi a fluência do inglês que na verdade a fluência primeiro vem na mente para depois se estender à fala. O estudante, nos seus primeiros passos, atrela muito a língua que aprende à sua língua materna, ou outra de grande proficiência, de maneira que ao tentar se comunicar naquela língua, é comum ocorrer uma breve (às vezes nem tanto) tradução mental, onde o pensamento (o que se quer dizer) vem na língua materna para depois ser traduzido para a língua em questão e em seguida ser exteriorizado. Quanto mais rápido é esse processo, mais próximo da fluência o estudante se encontra, até chegar um ponto em que o cérebro já foi tão exposto e já tem um conhecimento tão amplo da língua que ele já consegue converter seus pensamentos naquela linguagem e automaticamente exteriorizá-la; é quando o cérebro adquire uma outra linguagem que então podemos falar fluentemente. É importante notar a relação entre a carga lexical a qual o cérebro deve receber para chegar a tal ponto e o léxico do próprio falante, ou seja, o falante fluente nasce quando seu cérebro já foi suficientemente “bombardeado” por aquele idioma, proporcionando-lhe assim material suficiente para se expressar sem ajuda da língua primária.


Há um ditado que afirma que quanto mais línguas se sabe, mais facilmente se aprende outras. Ao chegar à fluência de outras línguas, como espanhol e italiano, cheguei a essa mesma conclusão. O mecanismo desenvolvido pelo meu cérebro anteriormente com a experiência da língua Inglesa parece ter ampliado a minha capacidade de pensar em outros idiomas, ou seja, o cérebro adquiria mais facilmente outras linguagens valendo-se da mesma plataforma construída pela língua Inglesa. É certo que a proximidade das línguas latinas à minha língua vernácula foi um acelerador deste processo, mas o mesmo pude notar com idiomas diversos com os quais tive algum contato a nível de aprendizado, como norueguês por exemplo. Antes, quando meu cérebro só entendia português, tudo que eu enxergava ou escutava em línguas estrangeiras era passado por uma espécie de triagem, onde eu refletia se já havia visto aquela palavra antes, e se eu sabia o seu significado, traduzindo-a, se possível. Também acontecia de, ao não poder traduzir a palavra, meu cérebro aproximá-la da palavra mais próxima possível na minha mente, o que é muito comum principalmente com línguas latinas, são os chamados “cognatos/falsos amigos”, onde por desconhecermos o termo, o processamos com o que mais se aproxima. Atualmente, ao ver termos conhecidos mesmo que nas mais diversas línguas eu posso compreendê-los instantaneamente, como se fossem parte de um amplo vocabulário na minha mente.


Isso tem se intensificado cada vez mais, com o passar do tempo. Percebo que é como se minha mente agora não tivesse mais uma linguagem primária ou secundária, mas uma única linguagem que abrange todos os signos grafofonológicos na minha mente. Mais do que isso, é como se agora eu só compreendesse uma língua, e me expressasse em cinco (Português, Inglês, Espanhol, Italiano e Francês) além de termos soltos de diversas línguas com as quais já tive algum contato (Russo, Latim, Norueguês, Polonês, Romeno, Mandarim, Árabe, Sânscrito, Nahuatl, Quéchua, Alemão, Japonês, Urdu, etc). Assim como acontece com nossa língua vernácula, acontece de esquecermos uma ou outra palavra, confundir significados, etc, e isso também se aplica a esse mega vocabulário gerado em minha mente, com verbetes das mais diversas origens. Os termos de uso mais corrente e de vocabulário mais abrangente são os mais facilmente lembrados (1º - Português, 2º - Inglês...), o que ainda gera uma tênue divisão baseada na “etimologia” dos verbetes.


Esse processo mental de fluência, no meu caso, foi marcante em determinadas situações que me deram um vislumbre mais preciso de como isso funciona: para cada língua que aprendi, houve uma ocasião em que eu involuntariamente só conseguia pensar no idioma que eu estava aprendendo, ou seja, meus pensamentos surgiam na língua que eu aprendia na época, e por mais que eu tentasse, não conseguia pensar em outra língua, sequer a Portuguesa. À parte de ser uma experiência bizarra e de certa forma constrangedora, pois eu me sentia incapaz de comunicar-me na minha própria língua, foi algo extremamente interessante e até hoje inexplicável. Como é difícil chegar à conclusão de quando se adquire a fluência de uma língua, elegi essas ocasiões para tal, ainda que de forma simbólica, pois foram as ocasiões nas quais pela primeira vez “pude” (involuntariamente) coordenar todos os meus pensamentos nas línguas em questão.

Um comentário:

DIARIOS IONAH disse...

eu namorei um ingles que falava exatamente estas linguas e o mais incrivel, sem sotaque.:
Ingles, lingua do pais
Alemão, o pai era alemão
Tcheco, a mãe era tcheeca
Russo.
hungaro
polones
crota
servio
portugues,
italiano
frances
romeno
ladino
hebraico
iidiche,
espanhol
e algumas coisas em mandarim, pois teve um socio chines num restaurante la em Londres.