sexta-feira, 25 de julho de 2008

Coletividade

A coletividade da raça humana está profundamente arraigada no cerne de cada célula de nosso corpo, em cada aspecto da nossa existência. Estas palavras que aqui escrevo, uma a uma, foram pronunciadas e/ou escritas por outras pessoas, das quais tive algum contato durante a minha existência. Este texto, meramente é um compêndio de vocábulos e termos ordenados de tal forma a expressar minhas idéias, mas no fundo, são todas palavras que aprendi com os meus pais, na escola, na tv, etc., ao longo da minha criação. Mas isso é um aspecto exacerbadamente superficial da nossa existência, posto que ainda que a fala seja um instrumento quase tão antigo quanto o próprio homem, ainda é algo novíssimo, comparado ao que minha fugaz dissertação trata.

Toda nossa existência, de todos nós seres vivos, está inserida num contexto coletivo. Nossa carne, nosso sangue, nossos ossos, são frutos do feto que foi carregado no útero de nossas genitoras, que por sua vez veio de um espermatozóide que nadava outrora no epidídimo dos testículos dos nossos genitores. Nosso corpo vem da alimentação que nossas mães tiveram, tudo em nós foi gerado a partir de outrem. A roupa que nós vestimos foi desenhada e confeccionada por indústrias têxteis, que foram concebidas pelas mentes de nossos antepassados. Nem o que pensamos é totalmente original. Até nossos pensamentos seguem uma cadeia linear para se multiplicarem, pois nos é praticamente impossível pensar em algo totalmente original, sem que haja um pensamento prévio que o dê origem. Desde minha infância penso nisso. Uma vez, tentei pensar em algo totalmente independente de outro pensamento, um verdadeiro “pensamento infundado”, que não fosse proveniente de um anterior, por mais remoto que parecesse. Eis que um pensamento novo me veio à mente, de um lugar aparentemente desconhecido, algo que não me passara pela cabeça em momento algum: esquimós! Sim! Nada me fizera levar a pensar em esquimós, assim, esse parecia ser um pensamento original, infundado. Mas então me desapontei, pois descobri o porquê de ter pensado no dito grupo étnico: certa feita, meu irmão me contava sobre um professor de artes que ele teve, que falava freneticamente e de forma desconexa sobre assuntos – no ponto de vista de meu irmão – totalmente diversos entre si. Em um de seus trejeitos, imitando o tal professor, ele me disse “Ora, ele está conversando com você sobre Rembrandt, e de repente fala sobre McDonald’s, então sobre música, então sobre esquimós...”. É, por alguma razão guardei essa fala em meu inconsciente, e eis que os esquimós surgem, como um exemplo de pensamento desconexo, sem lógica, usado pela minha mente para objetivar meu anseio. Mas a memória a traiu. Ou não? Será que o tal professor de artes era de fato um indivíduo capaz de pensar livremente, sem a tal cadeia de pensamentos?

Mas a coletividade de que falo vai além. Além do raciocínio, além da raça humana. Neste nosso plano de existência, todos os seres vivos, e talvez até mesmo os objetos inanimados estão presos a essa cadeia. Este computador no qual digito este texto, este programa que estou usando para fazê-lo, o teclado sobre o qual o digito, a cadeira sobre a qual estou sentado, tudo foi imaginado pelos nossos antepassados e contemporâneos. Tudo tem uma história por trás. Acredito que esta seja a essência da vida nesta terra, queiramos ou não, já nos acostumamos tanto...

Eis que tive um breve pensamento. Indaguei-me como seria um mundo em que cada indivíduo fosse independente. Independente de tudo, literalmente. Ele não veio de ninguém, ele nasceu por si só, do nada, aliás, nem do nada. E se cria só, sem influência de nenhum outro ser vivo, quiçá nem da natureza. Ele não usa nada que lhe fora projetado ou desenvolvido por outrem, para uso específico ou em massa, se por um acaso houvesse outros seres como ele. Ele não utiliza uma língua criada por outros, mas sim uma sua, só sua. Ele nomeia seus próprios sentimentos, ele se expressa da maneira como sente vontade. Por fim, seus pensamentos não são presos a outros, ele pensa sobre tudo, à sua maneira, pensamentos totalmente infundados. O que seria esse ser? Uma aberração? Um deus? Um desafio às leis do Universo? A personificação (termo certamente errôneo) da liberdade incondicional, de tudo e de todos, caminhando sobre a superfície de algum planeta inóspito?



-Collectivity


Human collectivity is deeply rooted in the kernel of each cell of our bodies, in every aspect of our existance. These words that I hereby write, each one of them, have been previously pronounced and/or written by other persons, with whom I’ve had some sort of contact during my existence. This text merely is a compendium of words and terms set up in a fashion that enables me to express my ideas, but as a matter of fact, they’re all words that I’ve learned from my parents, at school, watching tv, etc., since I was born. But that’s a way too superficial aspect of our existence, for albeit speech is a human communication tool almost as ancient as mankind itself, it still is pretty new compared to what my humble essay deals about.

All our existance, of all us, living beings, is inserted in a colective context. Our flesh, our blood, our bones, are come from the foetus once carried by our mothers in their wombs, originated by the seed from the scrotum of our fathers. Our bodies are come from the food our mothers ate, moreover, everything in us is come from someone else. The clothing we wear comes from textile factories, conceived by the minds of our ancestors. Neither what we think is completely original. Even our thoughts follow up a linear chain of thinking in order to multiply themselves, because it’s nearly impossible for us to think about something completely from nothing, without a previous thought to give it birth. Since my childhood I’ve been thinking about it. Once, I tried to think about something completely independent, a true “sourceless thought”, not come from a previous one, even that very different from it. Then a brand new thought came up into my mind, from some apparently unknown place, something that had never passed by my head, in any moment: Eskimos! Yes! Nothing had driven me towards thinking about Eskimos, thus, that sounded like an original thought, sourceless. But then I got disappointed, because I found out why I thought in such ethnic group: One time, my brother was telling me about some arts teacher he had, who spoke frantically, talking nonsense about subjects that – according to my brother – had nothing to do with one another. Imitating him, my brother gave me a sample: “Well, he’s talking about Rembrandt, and then about McDonald’s, and then about music, and then about Eskimos...”. Yes, for some reason I bore that speech in my unconscious, and at last the eskimos arise, as an example of sourceless thought, not logical, used by my mind to reach my goal. But memory betrayed it. Or not? Perhaps that arts teacher was in fact someone able to think freely, without that chain of thoughts?

But the collectivity that I’m talking about goes beyond. Beyond reasoning, beyond human race. In this plan of existance, all living beings, and perhaps even the still objects are bound to this chain. This computer where I’m typing this text, this software that I’m using for it, the keyboard through which I’m typing, the chair where I’m sat down, everything was conceived by our ancestors and contemporaries. Everything has a story behind it. I believe that that’s the essence of life in this planet, may we want it or not, we’re so used to it...

But then I had a brief thought. I asked myself how would be a world where each individual were independent. Independent of everything, literally. He didn’t come from anybody, he was born on his own, out of nothing, actually, not even from nothing. And raises himself up, without influences from any other living being, perhaps not even from nature. He doesn’t use anything projected or developped by anybody else, either for specific or mass use, in the case there would be others like him. He doesn’t speak a language created by someone else, but his own language, only his. He names his own feelings, he expresses himself the way he wants. Finally, his thoughts aren’t bound to others, he thinks about everything, on his way, completely sourceless thoughts. What would be that being? An aberration? A god? A challenge to the rules of Universe? The personification (certainly a wrong term) of unconditional freedom, of everything and everyone, walking on the surface of some inhospitable planet?

Um comentário:

salix disse...

I guess you could say

FNORD!