Conta uma anedota bem antiga que um imigrante tornou-se milionário vendendo maçãs. Usou o dinheiro que tinha para comprar uma maçã e a revendeu por um preço maior, ficando com o lucro. Comprou mais maçãs e as revendeu, lucrando ainda mais e assim sucessivamente. A piada é que isso sugere que ele alcançou um milhão dessa maneira, mas não: em um dado momento, um parente milionário morre e ele herda tudo. Em tese, uma pessoa pode repetir qualquer processo indeterminadamente até conseguir uma grande soma, mas no fundo — nem tão fundo assim — sabemos que é praticamente impossível.
Parece óbvio, mas quanto maior a quantidade de qualquer coisa, mais complexa ela se torna e isso está presente em praticamente tudo no universo, regendo a forma como existimos. Uma gota d’água, por exemplo, não parece ter muita importância, porém uma quantidade gigantesca de gotas não apenas forma um lago, um rio ou um mar, elas também geram uma quantidade incrivelmente complexa de fatores incluindo, talvez, a própria vida. Andar pode parecer simples, mas andar sem parar, indeterminadamente, pode levar à morte. O mesmo passo que nos leva à cozinha pode nos levar ao outro lado do continente, mas à medida que a quantidade aumenta, tudo se torna mais complexo: é necessário descansar, se alimentar, se abrigar, pensar em estratégias, gerir problemas dos mais variados, ao longo do caminho. A pergunta é: quando as coisas deixam de ser simples e se tornam complexas? Quando uma gota d’água vira um dilúvio? Eu sei, tudo é relativo, mas a resposta pode estar em um nível mais fundamental.
Lembro-me de ler muito tempo atrás, no Sri Isopanisad, que Krishna é tal como uma gota d’água que forma o oceano. A gota é tão oceano quanto o oceano é uma gota, em sua composição, o que faz pensar que a complexidade é um elemento fundamental mesmo nas coisas mais ínfimas. Um átomo é tão incrivelmente pequeno e, ainda assim, é capaz de construir tudo o que conhecemos, inclusive nossos corpos. O DNA é microscópico, porém encerra em si tudo o que é necessário para formar a vida. É como se dentro de uma unidade fundamental existisse uma potencialidade que em grande escala tomasse outras dimensões. A gota é em si um dilúvio, um passo é em si uma jornada.
Em um ano, muitas coisas podem acontecer. Numa escala dez vezes maior, todas essas coisas são multiplicadas proporcionalmente e assim por diante. Uma possibilidade de conflito, uma chance para a paz, grandes descobertas e enormes tragédias podem acontecer em um ano, que é em si uma década, um século, um milênio, uma eternidade. Feliz ano novo.
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