1. A Rússia é uma federação
multicultural e multiétnica, com centenas de povos, sendo o russo eslavo apenas
uma dessas etnias (e a mais populosa).
2. “Russo”, na língua russa, tem
duas denominações. “Russkiy”, o russo eslavo, parente do polonês, do ucraniano,
etc. e “Rossiyanin”, cidadão russo de qualquer outra etnia, como os chechenos,
por exemplo.
3. Teoricamente um “russkiy”
também é “rossiyanin”, mas na prática os primeiros, em grande parte, odeiam os
segundos. O racismo é escancarado na Rússia, principalmente direcionado aos
povos do sul, como chechenos e daguestaneses, podendo se estender a outros
povos da antiga URSS, como tadjiques e azeris (veja mais sobre isso em http://www.youtube.com/watch?v=vgvOCMhm-CY).
Curiosamente, negros, por serem poucos, não são mal vistos lá, sendo até
exóticos, embora haja uma quantidade absurda de skinheads e grupos neo-nazistas
(ironicamente foi a URSS que destruiu a Alemanha Nazista, sua maior inimiga)
que também atacam negros e asiáticos.
4. Tais conflitos étnicos são mais
comuns nas grandes cidades – Moscou e São Petersburgo – para onde gente de toda
a Rússia e antiga URSS vai em busca de trabalho e melhores condições de vida.
Foi o caso da família da minha esposa, que imigrou da vizinha Belarús, para
Moscou, fugindo da crise econômica e da ditadura de Lukashenka.
5. Em Moscou tudo é muito caro, e
o salário não é necessariamente bom, por isso, para se manter, tem que
trabalhar muito. Só o aluguel do apartamento onde morávamos, um quarto e sala
no subúrbio, era de R$ 2000 por mês. Não é à toa que muita gente que tem
apartamento em Moscou, o aluga e vai morar fora, na Indonésia, por exemplo.
6. No interior, o custo de vida é
bem menor e as pessoas são bem menos estressadas e mais gentis.
7. Viajar pelo país é
relativamente barato. Os trens são muito eficientes e confortáveis, para todos
os gostos e bolsos. Trechos como Moscou – São Petersburgo podem custar dos 25
aos 700 reais, ida.
8. Apesar do seu tamanho
descomunal, a Rússia é bastante homogênea - herança da era soviética, que
queria padronizar tudo, inclusive o idioma, que quase não tem sotaques
regionais, a não ser em zonas rurais ou por falantes de russo como segunda
língua. Uma pessoa de Kaliningrado, na fronteira com a Polônia, fala igual a
uma pessoa de Vladivostok, pertinho do Japão. Os prédios residenciais são quase
todos idênticos, porque os soviéticos acreditavam ser mais fácil copiar o mesmo
modelo para todas as cidades, em grande escala.
9. O bilingualismo é forte em
certas regiões da Rússia, como no Tatarstão, onde praticamente tudo está
escrito em russo e tártaro. Entretanto, lamentavelmente, muitas outras línguas
estão em perigo de extinção, como o kareliano, falado na Karélia, território
que fazia parte da Finlândia.
10. A Rússia é dividida em vários
tipos de unidades federadas, dependendo de sua autonomia. Há repúblicas, onde
há concentração de povos que falam suas próprias línguas e professam suas
próprias religiões, como o muçulmano Tatarstão, que dominou a Rússia durante séculos, a budista Calmúquia e a animista Ossétia do Norte. Depois
vem os “ôblast”, que se assemelham ao nosso conceito de estado, os “krai”, que
literalmente significa “limite”, formam fronteiras históricas da Rússia, os
“okrug” que podem ser autônomos ou não, e os distritos federais de Moscou e São
Petersburgo, antiga capital imperial.
11. Há uma rixa entre Moscou e
Piter (como os russos em geral chamam São Petersburgo) semelhante à existente
entre Rio e São Paulo, sobretudo em tópicos culturais e políticos. A maioria
dos russos gosta mais de Piter do que de Moscou, talvez por causa do
estereótipo de que moscovitas se considerem superiores ao “resto” da Rússia.
Curiosamente é raro achar alguém em Moscou que realmente seja de Moscou.
12. Apesar do alcoolismo ser um
problema grave na sociedade russa, há muitos russos que não bebem. É proibido
beber na rua e é probida a venda de bebidas alcoólicas depois das 23h. Até a
venda de álcool hospitalar é proibida, sendo necessário trazer receita para
comprar um frasco de 100ml. Por ter acesso a álcool hospitalar, é muito comum
ver médicos alcoólatras.
13. Na Rússia não há a cultura do
barzinho, como no Brasil. Lá tavernas são poucas e caras, assim, é muito comum
ver gente bebendo na porta dos mercadinhos, nas esquinas, em parques ou no “pod’iezd”
– espaço que vai desde a entrada até as áreas comuns dos prédios, sempre de
olho na polícia, que quando aparece, pede propina. Ironicamente, vodka é uma
moeda comum de suborno.
14. Muitas dessas pessoas que
bebem na rua, escondidas, são chamadas de “gôpniki”, da sigla para “Abrigo
Estatal do Proletariado” (GOP, em russo), originalmente localizado em São
Petersburgo, nos tempos da revolução, uma espécie de Cidade de Deus russa. Os
gôpniki são jovens geralmente vistos agachados nas esquinas de prédios e
parquinhos, comendo sementes de girassol, usando versões falsificadas de roupas
esportivas da Adidas, Nike, Puma, etc, e frequentemente com o olho roxo ou
outros sinais de briga pelo corpo. Eles em geral pedem “emprestado” seu
celular, boné ou qualquer outro objeto de valor, podendo ser perigosos.
15. Outros tipos perigosos russos
são os torcedores de futebol, que quase sempre são neo-nazistas e odeiam
minorias étnicas russas e estrangeiros de aparência não europeia. Entretanto,
eles adoram brasileiros, então se você topar com um grupo de neo-nazistas,
basta falar “iá iz Brazílii” (eu sou do Brasil) que logo todos sorrirão e te
chamarão para beber cerveja e assistir algum jogo do Zenit (time de São
Petersburgo), Spartak (de Moscou) ou algum outro do gênero. Militares em geral
são tão cabeça-oca quanto, especialmente os paraquedistas da aeronáutica
(vdvshniki), que comemoram seu dia, 2 de agosto, nadando em fontes na rua,
bebendo vodka e procurando algum “tchurka” ou “ratch”, como eles chamam os
migrantes do Cáucaso e da Ásia Central, para bater.
16. Mesmo assim, a Rússia ainda é
um país muito mais seguro do que o Brasil, sendo Moscou, considerada a cidade mais
violenta do país, um paraíso comparada aos índices de criminalidade das cidades
brasileiras.
17. O tabagismo é um problema
quase tão grave quanto o alcoolismo. Na Rússia só agora estão tentando impedir
o fumo em espaços fechados e as áreas para não-fumantes frequentemente tem
cheiro de cigarro. Drogas ilícitas como maconha e cocaína são utilizadas em
escala muito menor que no Brasil, sendo que o narcotráfico não é um problema
grave no país.
18. O atendimento russo é um dos
piores que já vi, sobretudo em cidades grandes. Isto se deve talvez ao fato de
que a economia soviética era muito pouco competitiva e os funcionários não se
esforçavam para atender melhor, porque o salário vinha do estado de qualquer
forma, ou seja, na prática, a URSS era uma imensa repartição pública, somado à
grande quantidade de pessoas com nível superior completo (analfabetismo é
inexistente na Rússia), número que não corresponde com as necessidades do
mercado de trabalho e gera profissionais frustrados e insatisfeitos por
trabalhar numa área que não condiz com sua formação, como engenheiros
trabalhando como garçons ou médicos trabalhando como vendedores. Com a chegada do capitalismo, no entanto, o
serviço continua péssimo mas agora custa muito mais caro.
19. A corrupção é um problema tão
grave lá quanto aqui. A burocracia lá chega a ser pior do que aqui, o que quase
institucionaliza o suborno e a sonegação em todas as esferas.
20. Russos tem dois passaportes,
um doméstico, obrigatório a todos, e um para viagens ao exterior, facultativo.
21. Nesse passaporte doméstico fica
a “propiska” (lê-se “prapiska”). Consiste num registro do lugar onde a pessoa
mora. Qualquer mudança que essa pessoa fizer, deve ser devidamente registrada
pelas autoridades. Sem propiska, o cidadão corre o risco de ser ilegal dentro
do seu próprio país. Exemplo: se você tem propiska em Novossibirsk mas mora em
Moscou, corre o risco de não poder trabalhar, estudar nem receber atendimento
médico lá.
22. Para estadias superiores a 3
dias em qualquer cidade na Rússia é necessário fazer um registro, indicando
seus dados, onde você está hospedado e os dados do hospedeiro, que tem que ter
propiska no local. É comum ver policiais pedindo documentos a pessoas que eles
julgam não parecer locais (principalmente do Cáucaso e Ásia Central) para ver
se elas estão com o registro em ordem. É muito comum falsificá-lo também,
existindo empresas clandestinas especializadas nisso.
23. O clima na Rússia de um modo
geral é extremo: verões muito quentes e invernos muito frios. Eu peguei de 40
graus positivos a 40 graus negativos. As estações são muito bem definidas, o
que se reflete nas roupas, que variam com a estação não apenas por questão de
moda, como na maior parte do Brasil, mas por necessidade.
24. Existe uma variedade enorme de palavras em russo para frio e
roupas de frio.
25. A Rússia é um país rico em
recursos naturais, como gás e petróleo, sendo a grande exportadora de gás para
os países europeus. O aquecimento domiciliar é muito bom, sendo possível dormir
de cueca em casa enquanto faz 40 graus abaixo de zero na rua.
26. É muito comum tomar chá,
especialmente no inverno. Existe uma enorme variedade de sabores e mesmo depois
de voltar ao Brasil eu continuo com o hábito de tomar chá diariamente.
27. Russos são muito
supersticiosos, sobretudo no que se refere a dinheiro. Eles acreditam que não
se pode assoviar dentro de casa, porque faz perder dinheiro. O mesmo para dar
dinheiro nas mãos de outra pessoa; deve-se deixar a quantia em algum local,
para que a própria pessoa pegue (o mesmo se faz dando propina. Coincidência?). Nos supermercados isso é bem
visível, nunca a caixa vai te dar dinheiro na mão, tendo uma bandejinha de
plástico específica para isso. Ver um gato preto ou passar por debaixo de
escada e quebrar um espelho também são sinais de azar lá.
28. É feio apertar a mão de
alguém usando luva, por mais frio que esteja. Também deve-se deixar o sapato na
entrada de casa, onde há um cubículo feito para isso, onde também se deixam as
roupas de inverno. Nunca se deve saudar a alguém no batente da entrada de casa.
Segundo a crença, é no batente da entrada que moram os antepassados da família.
Ao botar o pé fora de casa e ter que voltar por algum motivo, é necessário se
olhar no espelho, senão dá azar. Ao viajar, antes de sair de casa, é de praxe
sentar-se um pouco, com as bagagens, para ter boa sorte. Isso realmente ajuda a
lembrar-se de algo que esteja faltando.
29. Ao contrário do que muitos
pensam, russos quase nunca falam “nazadorovie” ao beber vodka. Eles brindam
cada vez por algo diferente, em geral, começando pelo encontro, depois pelos
parentes, pelo amor, e por aí vai. É considerado descortês não aceitar ao menos
um gole.
30. A culinária russa é cheia de
pratos das mais diversas origens. Ao visitar alguma família russa, é muito
provável que lhe ofereçam, junto com a vodka (afinal russos nunca bebem sem
aperitivo) salada, de vários tipos e sabores, quase sempre muito gostosas;
“buterbrod” pão preto fatiado, com salame, queijo, picles, ou algo do gênero e
até mesmo caviar, em geral vermelho, mais barato. É muito comum também o
piel’miêni, uma espécie de ravioli russo, sopas, como o borsch, uma sopa
ucraniana à base de beterraba, também muito famosa, com a receita variando de
acordo com cada família. Aliás, é muito comum tomar sopa no almoço, sendo muito
comum colocar um creme de leite azedinho chamado “smietana”, que se acha em
todo lugar. Batata cozida com almôndegas também é muito comum, sobretudo nas
residências estudantis. Na rua o que mais se come é a “chaurmá”, uma espécie de
churrasco grego de origem asiática, e o “tcheburiêk”, idêntico ao nosso pastel.
As porções russas em geral são pequenas, comparadas às nossas, e eles não
gostam de misturar comida no prato, comem tudo separadinho.
31. Cobradores de ônibus/bonde quase sempre são mulheres. E
sofrem muito, porque raramente os ônibus de lá tem catraca: entram todos os
passageiros de vez e a coitada, que, obviamente, está sempre mal-humorada, tem
que correr atrás dos passageiros para que eles paguem a passagem. Ao pagar elas
te dão um bilhetinho, com uma numeração, em geral de 6 algarismos. Quando a
soma dos 3 primeiros é igual à soma dos 3 últimos (exemplo: em “151322” 1+5+1 =
7 e 3+2+2 = 7, ou seja, as duas somas são iguais a “7”), esse bilhetinho é
considerado “da sorte” (schastlivy biliet), que você deve comer e fazer um
pedido.
32. O transporte público na
Rússia, herança do socialismo, onde carro privado era luxo, é muito eficiente, tendo
linhas de ônibus, vans (legalizadas), bondes e, se a cidade for grande, metrô.
O tempo de espera no ponto é mínimo, e todos eles (com exceção das vans) tem
aviso sonoro e aquecimento, tudo pensado nas duras condições do inverno, que
congela as janelas e torna a espera no ponto de ônibus um suplício. Taxi só
chega agendando com a central telefônica e especificando o endereço para busca
no GPS. Só há uma bandeira e os carros raramente tem taxímetro ou qualquer tipo
de identificação externa. As corridas são, em geral, (bem) mais baratas que no
Brasil, mas eles adoram dar golpe em turista, aplicando preços exorbitantes,
principalmente indo ou vindo para o aeroporto, que em geral se localiza muito
longe do centro.
33. O segredo da beleza russa é a
maquiagem. As russas são muito vaidosas e quase nunca ousam sair de casa sem se
maquiar primeiro, aonde quer que vão. Sempre procuram se vestir bem e se
preocupam com a aparência. O padrão de beleza é o anoréxico, sendo um insulto
seríssimo dizer a uma russa que ela tem um bumbum grande, o que é o mesmo que
chamá-la de gorda. As periguetes de lá não se importam com o frio, chegando a
sair de minissaia e salto alto com temperaturas de 40 graus abaixo de zero e
montanhas de neve. Toda essa preocupação geralmente tem um objetivo: achar um
marido rico. As russas casam muito cedo, em comparação às brasileiras, que
muitas vezes nem se casam, e, geralmente, com algum cara que possa bancá-las.
34. Russos em geral são frios com
desconhecidos, principalmente em espaços públicos. As russas, que muitas vezes
usam quilos de maquiagem e se produzem como se fossem à cerimônia do Oscar,
quase sempre andam de cara feia, a menos que você esteja numa BMW ou numa
Mercedes, de preferência com um iPhone 5 na mão. Depois do primeiro contato,
eles tendem a se abrir mais, e aí você pode fazer grandes amigos(as).
35. Russos em geral são
puritanos: eles não tem equivalentes para “periguete” nem “ficar”, e agem como
se essas coisas lá não existissem. Porra nenhuma! Lá o que mais tem é
periguete, que ficam com Deus e o mundo nas baladas. Russos também acham muito
feio falar palavrão, sobretudo na frente de mulheres mas em russo existe uma
sub-língua inteira só de palavrões, chamada de “mat”. Mat baseia-se em 3
palavras-raízes, sendo elas “rui” (caralho), “pizdá” (buceta) e “iebat’”
(fuder), que, através de afixos podem gerar uma infinidade de palavrões
inimagináveis com os mais diversos significados, e mesmo a mocinha mais
angelical que você conhecer vai saber a maioria deles.
36. Devido ao antigo calendário
juliano, alguns feriados do calendário russo são comemorados em datas
diferentes das nossas, ou até mais de uma vez, sendo uma no atual calendário
gregoriano, e outra no antigo calendário juliano, como o ano novo e o ano novo
velho, comemorado na noite do dia 13 a 14 de janeiro. Pelo mesmo motivo o natal
é comemorado dia 7 de janeiro, sendo 25 de dezembro um dia como outro qualquer.
Páscoa também é comemorado depois da páscoa católica. O maior feriado russo é o
ano novo, que mistura características do nosso natal. Como na União Soviética
religiões eram proibidas, a árvore de natal virou árvore de ano novo e o Papai
Noel é o velho Ded Moroz (algo como “vovô friozão”, em russo) que traz
presentes na noite de ano novo. Os 10 dias seguintes ao ano novo são um
mega-feriadão em que quase ninguém trabalha e todo mundo enche a cara de vodka
e come salada em casa. É também uma época muito fria do ano, em que o Sol
aparece muito pouco. Devido à grande quantidade de fuso-horários na Rússia, é
comum celebrar o ano novo no horário local onde se está, mais o de Moscou,
sendo que os mais pinguços ainda comemoram de outras regiões.
37. Casamento é uma enorme
indústria na Rússia, sobretudo em Moscou, onde quase todo dia se veem limusines
passando com noivos gritando aos quatro cantos (principalmente a noiva, quase
sempre bêbada) indo festejar em algum restaurante caro. A tradição é semelhante
à nossa, mas casamentos na igreja são mais raros lá, por influência do passado
soviético recente, onde não se podia casar na igreja. Como casamento na igreja
é considerado algo mais sério (e seguido pelos casais mais religiosos), alguns
casam lá anos depois do do civil, realizando uma espécie de “segundo casamento”.
Os cartórios fazem bem esse papel, no
entanto, sendo o casamento civil uma cerimônia bem mais pomposa lá do que nos
cartórios brasileiros.
38. A noção de “democracia” na
Rússia é bem diferente da nossa. Lá não existem eleições para prefeito nem
governador, sendo eles nomeados pelo presidente, sem mandato definido. Só para
você ter uma ideia, Yuri Luzhkov, prefeito de Moscou durante 18 anos
consecutivos, só saiu do cargo porque brigou com o então presidente Medvedev. Praticamente
só há eleições para presidente e primeiro ministro, e aí já viu, Putin manda no
país há mais de uma década, fazendo troca-troca com Medvedev. Belo exemplo de
democracia.
39. Se você pretende viajar para
a Rússia, é bom aprender pelo menos o alfabeto cirílico, porque lá é difícil
achar alguém que fale inglês ou ver letreiros com tradução em inglês ou com
transcrição para alfabeto latino, pelo menos.
40. É muito comum ver preços mais
altos para estrangeiros, principalmente em museus e teatros. Em compensação, a
maioria desses lugares tem descontos para estudantes, basta apresentar sua
carteira de estudante, pode ser a brasileira mesmo.
41. Nos templos ortodoxos,
islâmicos ou budistas quase sempre a entrada é gratuita mas é proibido
fotografar (aliás, parece que tudo é probido na Rússia, mas todo mundo faz
mesmo assim). Para entrar nos templos ortodoxos, homens devem tirar o gorro ou
qualquer coisa que cubra a cabeça, e mulheres tem que usar saia e cobrir o
cabelo. Se você é mulher e for de calça (short ou bermuda nem pensar!) é
possível que você possa pegar um lenço na entrada da igreja (especialmente se
tiver um convento anexo) para enrolar na cintura, fazendo uma saia improvisada.
Se estiver menstruada, o que para eles é sinal de impureza, é melhor passar
longe então. As igrejas ortodoxas em geral tem uma nave circular, sem bancos e
com pinturas de santos ao invés de esculturas. A maioria dos czares e
imperadores russos hoje são santos, não importa se eles tenham cometido as
piores atrocidades durante seus reinados.
42. Se no Brasil parece que falta
infra-estrutura para deficientes físicos, na Rússia é muito pior. Eles
praticamente ignoram pessoas com necessidades especiais, sendo difícil achar
rampas, avisos sonoros e, sinceramente, não me lembro de ter visto passeios
táteis nem braille em lugar nenhum lá. O memorial da Batalha de Stalingrado
(dentre outros memoriais e pontos turísticos russos), que foi a maior batalha
da história da humanidade, na atual Volgogrado, é um exemplo gritante disso. Eu
não conseguia imaginar com os soldados mutilados ou aleijados depois da guerra
poderiam fazer para subir a interminável escada que leva até o pavilhão
principal, seguido da monumental estátua de 85m de altura da Mãe-Pátria.
43. Falando em exército, o
alistamento militar não só é obrigatório e dura 2 anos como se a pessoa for
dispensada nesse ano, deve voltar no próximo para se alistar (ou ser
dispensada) novamente, até os 27 anos. Servir o exército russo é o maior
pesadelo na mente dos jovens russos que fazem de tudo para não se alistarem.
Para serem dispensados, eles tentam esticar os estudos ao máximo possível,
fazendo graduação, mestrado e até doutorado para não ir pro quartel, ou
simplesmente tem filhos, o que garante 3 anos sem servir o exército, por filho.
Outros mais abastados pagam fortunas para não serem chamados, enquanto os mais
pobres tomam doses cavalares de cafeína e sobem e descem correndo lances
inteiros de escada, para elevar a pressão e serem reprovados no exame médico. Alguns,
pasmem, são capazes de cortar um dedo, ou de se passarem por gays, que não são
admitidos no exército.
44. Aliás, se aqui no Brasil a
gente reclama de homofobia, na Rússia é tolerância zero. Parada gay é proibida
por lei e os poucos homossexuais militantes que tentam fazê-la levam porrada da
polícia e de civis. Recentemente, em São Petersburgo, considerada a capital
cultural da Rússia, foi aprovada uma lei que criminaliza a “propaganda
homossexual”, ou seja, o simples fato de dizer em público “eu sou gay” é crime.
Bom, se você disser isso em português, talvez não vá em cana...
45. Outra característica marcante
da sociedade russa é o machismo. Desde a infância, nas escolas, meninos
aprendem marcenaria e mecânica enquanto meninas aprendem a cozinhar e costurar.
Elas são orientadas desde pequenas a se vestirem e parecem bonitas para os
homens e que devem obedecê-los, enquanto eles podem fazer o que quiserem.
Homens quase nunca ajudam nas tarefas domésticas e são muito ciumentos. Em
compensação, talvez pela frieza do homem russo, eles não cantam ou assobiam
para mulheres na rua, coisa tão comum no Brasil.
46. Em termos econômicos, a
sociedade russa é mais igualitária que a brasileira, não se notando uma
diferença tão grande quanto a nossa entre ricos e pobres. Lá há muito menos
miséria e mendigos, até porque é impossível viver na rua com o rigoroso inverno
russo. Em compensação, há uma grande concentração de riqueza nas mãos de uns
poucos, sendo que Moscou é a cidade com o maior número de bilionários do mundo.
47. A maioria dos russos já
esteve, está ou estará alguma vez na vida na Crimeia, um balneário no sul da
Ucrânia. Destinos turísticos populares também são Turquia e Egito, que são
inundadas de turistas russos beberrões. Para os que tem mais dinheiro,
Tailândia e Indonésia são os destinos turísticos mais procurados.
48. Todo russo que se preza tem
vk (abreviatura de vkontakte “emcontato” [sic], em russo), uma espécie de facebook
russófono com um ótimo sistema de compartilhamento de música e vídeo, que, por
sinal, está ficando popular entre brasileiros, e/ou livejournal, um tipo de blog
e rede social.
49. Russos adoram adornar títulos
de profissões. Se lhe oferecerem uma vaga de emprego como “promoter”, não ache
que você vai organizar mega eventos ou trabalhar numa grande empresa, mas sim
distribuir panfletos na rua, ou se te chamarem para ser “manager em landschaft”
(mistureba do inglês para “gerente” e do alemão para “paisagem”), não vá achando
que você vai ser chefe de algum departamento executivo. Balela, isso quer dizer
“faxineiro”.
50. Os russos em geral conhecem
muito pouco sobre o Brasil, só o basicão: carnaval, futebol, praia, e,
aparentemente, nossos maiores produtos de exportação por lá, o café, a carne
bovina e as novelas, que por sinal há tempos não passam mais na TV. As mais
famosas foram Escrava Isaura e O Clone, cujos personagens ainda habitam as
mentes de muitos. Contudo, quando falo a eles que o Brasil é mais rico que a
Rússia, sendo a 5ª maior economia do mundo, 5º país mais populoso e 5º maior
país por território (4º maior, em área contínua), eles ficam pasmos e pensam
que eu estou contando lorota. Por algum motivo eles acham que a maioria dos
brasileiros (ou todos, sei lá) são negros, e não acreditam que um branco ou um
asiático possa ser brasileiro, embora eles tenham assistido novelas
brasileiras, onde negro é mosca no leite. Eles também não fazem ideia de que
língua nós falamos, sendo o palpite mais comum “brasileiro” seguido de
espanhol.