Hoje descobri por acidente uma cápsula do tempo que criei involuntariamente há quase três anos atrás. Trata-se de um CD de backup que gravei em 2006, na maior parte com arquivos do meu computador, mas também com certos arquivos do meu irmão, o qual, quando foi para a Itália o levou consigo. Enfim de volta para passar férias com a família, ele me trouxe o CD, o qual eu já nem lembrava exatamente o que continha. Para minha surpresa, havia muitas fotos, tiradas com minha primeira câmera digital, além de arquivos de áudio (gravações da minha própria voz) e texto. Tamanha era a diversidade dos arquivos que me foi possível resgatar com uma enorme grandeza de detalhes como era a minha rotina nos idos de 2005-06, e muitas foram as surpresas; coisas que eu nem me lembrava mais, descobertas de características minhas atuais que começavam a se moldar ainda naquela época, enfim, uma viagem de autoconhecimento através do tempo.
O que mais me chamou atenção nas minhas próprias fotos é que eu sempre estava sozinho, nunca havia ninguém mais, e a maioria das fotos foram tiradas no próprio apartamento, principalmente do meu quarto. Havia muitas fotos do meu computador, em diversos ângulos, diversas telas, fotos até mesmo do teclado. Outras mostravam o cenário ao redor, como o vão de escadas do prédio (19 andares) e até mesmo o elevador. Era como se eu vivesse num mundo à parte, a solidão era latente. Isso fica ainda mais claro nos textos, e ainda que eu fosse acostumado com isso, havia um dilema dentro de mim, uma parte de mim que sofria com aquilo, que queria companhia, queria calor humano.




Vista do meu quarto, 2005.
31/08/2006 - 21:53:27 - "P" - "pq vc se interessou em mim?"
31/08/2006 - 21:54:19 - "C" - "pq eu vi a solidao dentro de vc"
Textos: Eu nem me lembrava mais que eu tinha uma espécie de diário onde eu escrevia certas coisas relevantes (ou não) que aconteciam ou que estavam por acontecer em breve. Interessante é que ao invés de escrevê-lo ao fim do dia eu o escrevia na véspera, especulando sobre como seria o amanhã, metas, etc. Eles revelavam minha rotina em detalhes, além do meu modo de encarar as coisas:
"6ª 01/07 (sic) - eu ja tinha calculado, o exato meio do ano seria ao meio dia (182,5 dias), mas eu me esqueci na hora, fui almoçar. Tb d q adiantava, q q eu ia fz? festejar? abrir champanhe? boa merda. (...)"
"segunda feira (sic) 04/07 - viva a independência dos usa!! rofl. Se hj em dia eu falo inglês eh s/ dúvida eh (sic) por causa desse país. (obs, eu n considero isso uma boa coisa!)"
"quarta feira (sic) - 22/06/05 - (...) -voltei p/ ksa, ainda pensativo, me sentia contrariado em estar voltando, queria ir p/ algum lugar, mas eu nem mesmo sabia onde... (...) droga pq q a solidão machuca assim? Eu novamente senti aquele vazio..."
"quarta feira (sic) - 22/06/05 - (...) -voltei p/ ksa, ainda pensativo, me sentia contrariado em estar voltando, queria ir p/ algum lugar, mas eu nem mesmo sabia onde... (...) droga pq q a solidão machuca assim? Eu novamente senti aquele vazio..."
Outro tipo de texto presente foi o de histórico do messenger, mas deste, só destaco uma conversa, a qual relendo hoje, me deixou sem palavras durante alguns instantes (Obviamente preservei nomes).
31/08/2006 - 21:53:27 - "P" - "pq vc se interessou em mim?"
31/08/2006 - 21:54:19 - "C" - "pq eu vi a solidao dentro de vc"
Fiquei sem palavras justamente porque a solidão que tanto tinha o poder de me isolar, surpreendentemente também teve o poder de atrair. Entretanto nos afastamos de novo. Isso me remete a um post anterior, "Sentido", ou seja, a idéia de que a vida não tem sentido. Ou ao menos eu não tenho capacidade de percebê-lo.
Um comentário:
Amo coisas velhas e esquecidas pelo prazer-surpresa-reflexão que elas trazem.
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